sexta-feira, 22 de julho de 2011

Para outra menina com uma flor.


— Você tem um jeito diferente. — Ele repetiu pela décima quarta vez e ela só levantou uma das sobrancelhas, aprofundando ainda mais seu olhar no horizonte avistado pela janela do décimo quinto andar. — É sério, parece que eu te conheço de outros tempos.
— É? E por quê? — Ela parecia exausta.
— Você gosta de purê de batata, você come brigadeiro, você tem um Ursinho de pelúcia que é seu companheiro, você canta baixo e desafina ou você canta alto parecendo louca, depende do seu humor. — Ele sorriu enquanto colocava a mecha de cabelo caída atrás da orelha dela.
— Por que isso me tornaria uma pessoa diferente? — O olhar deixou de ser indiferença e passou a ser dúvida.
— Porque você faz com que eu me sinta como Vinícius de Moraes.
— Onde você quer chegar? Não entendi.
— Nunca leu aquele texto dele “Para uma menina com uma flor”? — Ele acendeu um cigarro e deu uma longa tragada.
— Nunca.
— Pois leia! Você é aquela menina que ele descreve.
— E eu ainda não entendi onde você quer chegar… Isso não me faz diferente de ninguém, nem daquela menina ali naquela janela. Por que eu sou diferente? — Ela coçou os olhos: sempre o fazia quando estava intrigada.
— Posso falar o que ele diz no final do texto? — Ela assentiu com a cabeça, ele suspirou e prosseguiu… — “Porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor”. Sei lá, eu sou confuso, mas você é a minha menina com uma flor e acho que ser isso pra alguém é grandioso.