sábado, 13 de fevereiro de 2016

Bom par

Eu torci pra que a chuva caísse quando cê disse que estava no táxi. Bati a porta e desci correndo pelo elevador como se minha vida dependesse daquilo. Respirei fundo, sentei na escada e fiquei olhando pra esquerda que era de onde você viria. Olhei o céu, uma duas três vezes e nada de chuva. Tudo bem. Lá veio e táxi e eu segurei o dinheiro firme nas minhas mãos suadas e parecia que era a primeira vez que eu iria abrir a porta do carro e te abraçar (mas já era a 32ª vez que nos visitávamos). É tão particular repetir essas lembranças, o silêncio bastaria, mas faz tanto tempo que eu quero te escrever de novo. Você desceu do táxi, parecia que estava descendo em câmera lenta e eu só te puxei e te puxei para um abraço sem fim. Desculpa, desculpa se cansou das minhas palavras soltas, desculpa se falo demais, desculpa. Eu me perdi aqui. Calma. O que eu estava pensando hoje, depois de você ter ido embora, olhando esse céu azul com rosa é sobre aquele momento que você me perguntou se podia me abraçar na frente do shopping. Eu te olhei como se fosse a primeira vez e disse que claro que sim, você me puxou então e começamos a dançar. Cê não sabe, mas meu olho lacrimejou enquanto uma música aleatória tocava no ambiente e provavelmente alguém olhava pra gente e pensava que éramos malucas. Ainda está marcada em mim a sensação de sentir que a qualquer momento alguém gritaria "Corta" porque não era possível ser real a gente ali na frente do shopping dando uns passinhos tímidos e eu respirando fundo pra não chorar. E eu te juro, te juro que não era de tristeza. E te juro que te olhar é sempre inédito.

domingo, 25 de maio de 2014

Pra ser - Esteban

"Só quero que você entenda
Mesmo se não for pra ser, será
E se pensar no outro lado
Eu te espero do lado de cá
Eu não te peço muito
Só espero todo dia poder te esperar
Ensaio te pedir pra voltar
Porque morro de medo que se vá
Não me pergunte do passado
Eu nem sei o caminho pra voltar
E se ainda lembra onde pisou
Me faça o favor de esquecer
Eu não quero que mude
Não quero que me peça pra mudar
Eu quero que se cuide
E guarde os minutos para me cuidar
Estou contigo em todo lugar
Estou contigo em todo lugar
E tudo o que eu fiz, pra te provar que eu
Não quero a liberdade, se estiver sozinho pra voar
Prefiro morrer de saudade
Sabendo que você pode ressuscitar
Só que você entenda: Mesmo se não for pra ser, será"

terça-feira, 22 de abril de 2014

Ainda sinto minha unha te arranhando devagar nas costas depois de te fazer massagem e eu sinto vontade de jogar todo meu peso sobre você e murmurar na sua orelha que nunca mais foi igual e que as farpas estão me incomodando. Eu queria sentar de costas para você na nossa cama e tirar a blusa e te mostrar minhas cicatrizes, minhas asas quebradas cheias de ferrões, sujeiras, farpas e um pouco de sangue. Eu queria que você puxasse cada impureza de mim uma a uma e assoprasse quando eu gemesse de dor, depois queria que você costurasse minhas asas no lugar e me abraçasse até parar de arder. Mas eu não sinto suas mãos deslizando por mim, sinto apenas essa dor de pequenas coisas me fincando, pequenas coisas que de tanto eu me remexer sozinha tentando retirá-las já fizeram buracos profundos na minha coluna. Minha escápula está dolorida e quando eu me olho no espelho, sinto vontade de chorar. E choro. Choro porque essas asas feridas já foram gigantes quando você voava comigo e agora sou um anjo caído. Inspirar corrói meus pulmões, expirar me faz cuspir sangue às vezes. Qualquer um me pergunta porque eu não arrumo outra pessoa para me ajudar a reconstruir estas asas e eu só digo que não, que nunca, que não dá. Porque essas asas foi você quem me deu, você me ensinou a voar e elas só ameaçam bater novamente quando você está por perto. Sem você, elas são asas tristonhas que não têm sede de vento. Com você, mesmo feridas, elas tentam e tentam alçar voo. Só tem falhado um pouco nossa comunicação, nossa compreensão de nós. Eu só preciso de ajuda com as malditas farpas.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O peso da ausência (Eu só sei escrever sobre você).

Meus passos vacilam quando eu tento me equilibrar, mas agora você não está do meu lado para que eu balbucie: “eu não sei andar!” ou “minhas pernas são tortas, olha!”, qualquer tropeçada valia a pena enquanto subíamos os morros e morros que existem na sua cidade e agora eu quase sento para chorar se eu tropeço sozinha pela minha casa, pela minha rua.

Quando eu passo na frente daquela padaria que tem aqui perto de casa, lembro da padaria que nos roubou milhões de dólares porque nós não aguentávamos passar um dia sem comer coisa gostosa. E agora eu fico brava porque na padaria daqui não tem pão de cenoura e você me ensinou a amar pão de cenoura.

Qualquer criança que eu vejo na rua me lembra seu vizinho que a gente apelidou de forma estranha e eu queria muito te acompanhar todos os dias nas aulas que você dá para ele. Só para ver você me chamando sem querer de amor na frente dele ou para gente jogar uno e você roubar a meu favor porque já fazia mil anos que nós estávamos jogando e não acabava nunca ou só para te olhar explicando para ele multiplicação e divisão.

Meus amigos combinam de sair para beber e eu falo que nós devíamos ficar bêbados com champagne porque ficar bêbado com champagne é legal e porque eu fiquei bêbada com champagne na viagem que eu fiz. Aí eu começo a lembrar do meu tombo na rede porque suas amigas iam sentar em cima de mim, lembro da minha foto deitada no chão com aquelas garrafas e camisinha cheia de maionese fingindo ser outra coisa, lembro da gente na rede e você fumando cigarro de palha, mas seu olho ficando vermelho sem explicação.

Eu sei que se eu passar em frente àquele lugar onde as crianças brincam no Shopping, eu vou querer te ligar e te pedir para vir brincar comigo logo porque teve aquele dia que nós fomos com suas amigas e enquanto elas queriam ficar na área dos adultos jogando sinuca, nós queríamos brincar de dar soco para medir nossa força — e você ainda me chamou de “fraca” — ou só brincar de fazer cesta no basquete e não conseguir passar da fase um.

Estou te escrevendo isso enquanto sua blusa está no meu colo e eu olho de canto do olho para o seu chinelo que eu trouxe comigo sem querer. Ao mesmo tempo que estou rindo por tê-lo enfiado na mala meio sonâmbula, quero chorar por só poder sentir seu cheiro nessa camiseta nesse momento e você não sabe o quanto eu queria poder afundar meu nariz no seu pescoço agora mesmo.

Eu já te disse milhões de vezes que tudo me lembra você. Tanto por momentos que passamos aqui quanto por momentos que passamos aí e que se refletem do lado de cá. Eu queria muito saber elaborar algum texto extraordinário para que você entendesse a dor que eu sinto por ter que me despedir. Às vezes, me bate um medo de que nosso “até logo” possa ser definitivo, mas quando eu vejo o quanto de você que existe em cada detalhe do meu dia, vejo que isso é impossível. Impossível.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Oliver para Jordana.

"Querida Jordana,
Obrigado por me deixar explorar seu corpo. Poderia beber seu sangue.
 Você é a única que eu permitiria ser reduzida de tamanho e nadar dentro de mim numa máquina minúscula. Perdemos nossa virgindade, mas não foi como perder algo. Você é boa demais para mim, você é boa demais para qualquer um.
Sinceramente,
Oliver." 

 
(Filme: Submarine, 2011)

Longe.

Eu ainda estou na esquina da sua casa. Encostada no muro, segurando um guarda-chuva enquanto você entra para buscar sua mochila.
Eu ainda estou deitada contigo, chorando absurdamente enquanto rolam os créditos do meu filme preferido.
Eu ainda estou sentada naquele banco que disseram que havia um cara morto lá.
Eu ainda estou atravessando a rua cantando Elis Regina, vendo você me reprimindo com o olhar e me chamando de estranha.
Eu ainda estou te puxando para me beijar na chuva dentro do cemitério.
Eu ainda estou falando que seu gosto é o melhor do mundo.
Eu ainda estou dizendo que há um cabelo entre nós.
Eu ainda estou mandando minha testa contra a sua com toda a força depois de me assustar com um trovão.
Eu ainda estou fazendo palavras cruzadas deitada naquela cama.
Eu ainda estou naquela cama.
Com toda a bagunça, as roupas jogadas, o lençol desajeitado.
Eu ainda estou sendo desastrada contigo, te derrubando na rua.
Eu ainda estou tropeçando com meu chinelo por todo o canto.
Eu ainda estou falando sem pausas.
Eu ainda estou mordendo um copo de plástico, fazendo e te dando um chapéuzinho da felicidade.
Eu ainda estou beijando seu olho quando você chora.
Eu ainda estou rindo absurdamente enquanto eu reflito sobre a formiga na nossa frente.
Eu ainda estou naquele cinema.
Eu ainda estou naquela sacada.
Eu ainda estou pegando na sua mão.
Eu ainda estou.
Eu ainda estou aí.
Eu ainda não vim embora.
E não quero vir.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Felicidade.



(Ei! Obrigada a quem tem comentado aqui... Desculpem a falta de textos. Mas leio tudo que cês dizem com muito carinho. Obrigada mesmo. Beijos grandes e aproveitem essa música deliciosa!)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fica que não é errado.

os trilhos se quebraram,
o vagão perdeu o rumo,
os sinos nem tocaram,
mas já avisaram pra todo mundo
o tic-tac do relógio
e o suspiro descompassado
foram mil dias de angústia
mil dias no passado
agora a vida se confunde
com o certo e o errado
só não queria ouvir o som da morte
é muito cedo
é muito errado
é cedo porque não nasceu ainda
estamos vivos no passado
o futuro é desconcertante
"me desculpa pelo errado"
o presente nos prende ainda
tá tudo certo, não tá errado.
fica, fica, fica
fica no presente
não no passado
sem ter medo do que vem
sem olhar pra outro alguém
assim, só assim.
esquece os sinos
esquece a morte.
ainda estamos vivos
estamos lado a lado.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sobre a sua imortalidade.

Hoje você achou que eu não tinha mais motivos para escrever sobre você. Falou com medo da minha resposta que talvez eu estivesse sem inspiração.
Baby, baby. Você não sabe que tolices foram essas que passaram pela sua cabeça. Enquanto eu existir, vou escrever sobre você. Essa é a verdade, nua e crua. 
Porque eu tenho essa necessidade de te imortalizar. Já pensou que loucura? Você será imortal. Você tem que ser imortal, é o mínimo que eu posso te oferecer por tudo que você me faz sentir. Quando pessoas desconhecidas acharem meus papéis e meus escritos, não saberão quem é você, mas vão pensar que existiu alguém que foi o alvo de tanto amor. Vão questionar se você é tudo isso que eu sei que você é. Não acreditarão que eu nunca tenha cogitado a probabilidade de deixar de te amar. E dessa forma você será imortal. E dessa forma nosso amor será imortal.
Por isso que eu nunca deixo de escrever sobre você.
A inspiração falha às vezes, sim. Eu entro em pane, mas não é nada que dure muito tempo. Não se preocupe.
Eu sei que minhas palavras não são de extrema importância para o mundo. Mas elas são quase tudo que eu posso te oferecer. E eu não me canso de escrever sobre você.
Sobre sua mania viciante de me fazer rir. Que nem aquele dia que você falou mil espécies de pássaros diferentes que você queria que eu desenhasse.
Sobre sua paciência.
Sobre sua voz que está sempre comigo. Enquanto escrevo, é incrível a sua capacidade de me sussurrar coisas mentalmente e é incrível o efeito que isso causa em mim.
Eu não me canso, eu nunca vou me cansar de escrever sobre você.
E aposto que você nunca vai se cansar de me fazer escrever sobre você.
Você bate e eu te deixo entrar. Eu escrevo e você quer ficar.
Você sempre fica.
E alegre-se, amor... Você já é imortal.