quinta-feira, 23 de maio de 2013

O peso da ausência (Eu só sei escrever sobre você).

Meus passos vacilam quando eu tento me equilibrar, mas agora você não está do meu lado para que eu balbucie: “eu não sei andar!” ou “minhas pernas são tortas, olha!”, qualquer tropeçada valia a pena enquanto subíamos os morros e morros que existem na sua cidade e agora eu quase sento para chorar se eu tropeço sozinha pela minha casa, pela minha rua.

Quando eu passo na frente daquela padaria que tem aqui perto de casa, lembro da padaria que nos roubou milhões de dólares porque nós não aguentávamos passar um dia sem comer coisa gostosa. E agora eu fico brava porque na padaria daqui não tem pão de cenoura e você me ensinou a amar pão de cenoura.

Qualquer criança que eu vejo na rua me lembra seu vizinho que a gente apelidou de forma estranha e eu queria muito te acompanhar todos os dias nas aulas que você dá para ele. Só para ver você me chamando sem querer de amor na frente dele ou para gente jogar uno e você roubar a meu favor porque já fazia mil anos que nós estávamos jogando e não acabava nunca ou só para te olhar explicando para ele multiplicação e divisão.

Meus amigos combinam de sair para beber e eu falo que nós devíamos ficar bêbados com champagne porque ficar bêbado com champagne é legal e porque eu fiquei bêbada com champagne na viagem que eu fiz. Aí eu começo a lembrar do meu tombo na rede porque suas amigas iam sentar em cima de mim, lembro da minha foto deitada no chão com aquelas garrafas e camisinha cheia de maionese fingindo ser outra coisa, lembro da gente na rede e você fumando cigarro de palha, mas seu olho ficando vermelho sem explicação.

Eu sei que se eu passar em frente àquele lugar onde as crianças brincam no Shopping, eu vou querer te ligar e te pedir para vir brincar comigo logo porque teve aquele dia que nós fomos com suas amigas e enquanto elas queriam ficar na área dos adultos jogando sinuca, nós queríamos brincar de dar soco para medir nossa força — e você ainda me chamou de “fraca” — ou só brincar de fazer cesta no basquete e não conseguir passar da fase um.

Estou te escrevendo isso enquanto sua blusa está no meu colo e eu olho de canto do olho para o seu chinelo que eu trouxe comigo sem querer. Ao mesmo tempo que estou rindo por tê-lo enfiado na mala meio sonâmbula, quero chorar por só poder sentir seu cheiro nessa camiseta nesse momento e você não sabe o quanto eu queria poder afundar meu nariz no seu pescoço agora mesmo.

Eu já te disse milhões de vezes que tudo me lembra você. Tanto por momentos que passamos aqui quanto por momentos que passamos aí e que se refletem do lado de cá. Eu queria muito saber elaborar algum texto extraordinário para que você entendesse a dor que eu sinto por ter que me despedir. Às vezes, me bate um medo de que nosso “até logo” possa ser definitivo, mas quando eu vejo o quanto de você que existe em cada detalhe do meu dia, vejo que isso é impossível. Impossível.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Oliver para Jordana.

"Querida Jordana,
Obrigado por me deixar explorar seu corpo. Poderia beber seu sangue.
 Você é a única que eu permitiria ser reduzida de tamanho e nadar dentro de mim numa máquina minúscula. Perdemos nossa virgindade, mas não foi como perder algo. Você é boa demais para mim, você é boa demais para qualquer um.
Sinceramente,
Oliver." 

 
(Filme: Submarine, 2011)

Longe.

Eu ainda estou na esquina da sua casa. Encostada no muro, segurando um guarda-chuva enquanto você entra para buscar sua mochila.
Eu ainda estou deitada contigo, chorando absurdamente enquanto rolam os créditos do meu filme preferido.
Eu ainda estou sentada naquele banco que disseram que havia um cara morto lá.
Eu ainda estou atravessando a rua cantando Elis Regina, vendo você me reprimindo com o olhar e me chamando de estranha.
Eu ainda estou te puxando para me beijar na chuva dentro do cemitério.
Eu ainda estou falando que seu gosto é o melhor do mundo.
Eu ainda estou dizendo que há um cabelo entre nós.
Eu ainda estou mandando minha testa contra a sua com toda a força depois de me assustar com um trovão.
Eu ainda estou fazendo palavras cruzadas deitada naquela cama.
Eu ainda estou naquela cama.
Com toda a bagunça, as roupas jogadas, o lençol desajeitado.
Eu ainda estou sendo desastrada contigo, te derrubando na rua.
Eu ainda estou tropeçando com meu chinelo por todo o canto.
Eu ainda estou falando sem pausas.
Eu ainda estou mordendo um copo de plástico, fazendo e te dando um chapéuzinho da felicidade.
Eu ainda estou beijando seu olho quando você chora.
Eu ainda estou rindo absurdamente enquanto eu reflito sobre a formiga na nossa frente.
Eu ainda estou naquele cinema.
Eu ainda estou naquela sacada.
Eu ainda estou pegando na sua mão.
Eu ainda estou.
Eu ainda estou aí.
Eu ainda não vim embora.
E não quero vir.