terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Felicidade.



(Ei! Obrigada a quem tem comentado aqui... Desculpem a falta de textos. Mas leio tudo que cês dizem com muito carinho. Obrigada mesmo. Beijos grandes e aproveitem essa música deliciosa!)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fica que não é errado.

os trilhos se quebraram,
o vagão perdeu o rumo,
os sinos nem tocaram,
mas já avisaram pra todo mundo
o tic-tac do relógio
e o suspiro descompassado
foram mil dias de angústia
mil dias no passado
agora a vida se confunde
com o certo e o errado
só não queria ouvir o som da morte
é muito cedo
é muito errado
é cedo porque não nasceu ainda
estamos vivos no passado
o futuro é desconcertante
"me desculpa pelo errado"
o presente nos prende ainda
tá tudo certo, não tá errado.
fica, fica, fica
fica no presente
não no passado
sem ter medo do que vem
sem olhar pra outro alguém
assim, só assim.
esquece os sinos
esquece a morte.
ainda estamos vivos
estamos lado a lado.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sobre a sua imortalidade.

Hoje você achou que eu não tinha mais motivos para escrever sobre você. Falou com medo da minha resposta que talvez eu estivesse sem inspiração.
Baby, baby. Você não sabe que tolices foram essas que passaram pela sua cabeça. Enquanto eu existir, vou escrever sobre você. Essa é a verdade, nua e crua. 
Porque eu tenho essa necessidade de te imortalizar. Já pensou que loucura? Você será imortal. Você tem que ser imortal, é o mínimo que eu posso te oferecer por tudo que você me faz sentir. Quando pessoas desconhecidas acharem meus papéis e meus escritos, não saberão quem é você, mas vão pensar que existiu alguém que foi o alvo de tanto amor. Vão questionar se você é tudo isso que eu sei que você é. Não acreditarão que eu nunca tenha cogitado a probabilidade de deixar de te amar. E dessa forma você será imortal. E dessa forma nosso amor será imortal.
Por isso que eu nunca deixo de escrever sobre você.
A inspiração falha às vezes, sim. Eu entro em pane, mas não é nada que dure muito tempo. Não se preocupe.
Eu sei que minhas palavras não são de extrema importância para o mundo. Mas elas são quase tudo que eu posso te oferecer. E eu não me canso de escrever sobre você.
Sobre sua mania viciante de me fazer rir. Que nem aquele dia que você falou mil espécies de pássaros diferentes que você queria que eu desenhasse.
Sobre sua paciência.
Sobre sua voz que está sempre comigo. Enquanto escrevo, é incrível a sua capacidade de me sussurrar coisas mentalmente e é incrível o efeito que isso causa em mim.
Eu não me canso, eu nunca vou me cansar de escrever sobre você.
E aposto que você nunca vai se cansar de me fazer escrever sobre você.
Você bate e eu te deixo entrar. Eu escrevo e você quer ficar.
Você sempre fica.
E alegre-se, amor... Você já é imortal.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Desculpa pela bagunça, mas fica.

Sinto minha inspiração escorrendo pelo ralo.
Como se a enxurrada da rua estivesse limpando minha mente, arrancando minhas lágrimas e lambendo meu rosto, levando consigo as palavras que eu nunca usei.
Sempre coube a mim falar incessantemente. Eu sempre suportei nosso silêncio, sempre engoli o vácuo que nos rodeava para ter ao menos nosso silêncio. Mas quando era hora de falar, sempre coube a mim.
Já joguei milhares de palavras contra você, como se fossem tijolos pesados. Você sempre se assustou, mas sempre se deixou atingir. Em cheio. No meio da cara. Você sentia uma dor horrível quando minhas palavras te atingiam, mas mesmo assim, sempre disse que eu não devia pedir desculpas por nada. A culpa nunca foi minha, baby?
Presta atenção. É claro que a culpa é minha.
Sou eu que ouço as músicas e relaciono conosco. Sou eu que ouço Beatles, Renato Russo, Cazuza e Caetano, te procurando em cada verso. Sou eu que fecho os olhos e deixo as palavras se apossarem de mim. Nunca impedi que nenhuma merda não fosse vomitada porque eu sempre me sentia sufocada com tudo engasgado em mim. Mas e você? Quantas vezes você não sentiu tudo engasgado e acabou passando mal escondido de mim? Quantas, me diz? E você nem ao menos me chamou para segurar seus cabelos antes que eles grudassem no seu rosto, misturando lágrimas, suor e desespero. Ao contrário de mim. Eu sempre apertei sua mão com tanta força, sempre expus minha dor sem remédio e você ainda diz que a culpa não é minha?
A culpa é mais do que minha. A culpa se apossou de mim a partir do momento que eu chorei desesperada no seu ouvido pela primeira vez. Eu nunca deveria ter me descascado dessa forma para você, nunca deveria ter subido nos seus ombros porque eu achava que você tinha ombros fortes. Agora seus ombros são fracos. Eu te causei uma dor infernal e agora você se curva dessa forma enquanto anda.
Eu nunca fiz nada por mal. Nunca quis que você me salvasse porque eu sei que não há salvação para quem escreve. Mas você me salvou. Olha que merda. Você me salvou. Você limpou minha alma com suas piadas horríveis que nem aquela do homem de três cabeça que eu comecei a contar para todos. Você limpou minha alma e eu te sujei. Com cada esforço para te fazer feliz, eu te sujava mais. E você nunca me culpou.
De certa forma, você se culpa. E eu sinto vontade de chorar quando você diz que não há esperança para você. Acabo chorando mesmo.
Porque há esperança sim. Você já é a esperança em forma de pessoa que surgiu no meu caminho.
Eu sempre quis te salvar dos monstros que eu mesma jogava no seu quarto no meio da noite. Sempre quis te salvar de mim. Sempre quis te salvar de você.
Eu tento todos os dias. Eu me esforço com todas as minhas forças, tenho me esforçado para limpar a bagunça que eu causei. Vou começar pelas janelas que são seus olhos. Ainda quero te fazer enxergar que podemos ir longe. Depois limparei suas mãos que eu manchei de sangue enquanto fincava minhas unhas desesperadas em você. Limparei o nosso céu, nossa rua, nosso mundo e o que mais for preciso. Só para você não curvar mais os ombros enquanto anda, só para apaziguar sua dor.

domingo, 28 de outubro de 2012

Fênix.

Nossos ombros são tão frágeis. Não suportamos o mundo em nossas costas. Eu não suporto carregar baldes com suas lágrimas em cima da minha cabeça, você não suporta as marteladas de realidade que minhas lamúrias fazem você sentir diretamente na sua cabeça. Não suportamos. Somos frágeis, como qualquer folha de papel voando sem rumo. Mas somos fortes. Como qualquer incêndio que se iniciou porque um fósforo caiu na mata. Foi tudo ameno até deixar de ser. Foi tudo fácil até nossa fragilidade escancarar os dentes e tentar nos devorar. Mas ela não conseguiu. Só que ela não desiste de tentar. O nosso universo insiste em gritar que é aqui o nosso lugar, mas nossa fragilidade nos faz pensar que não podemos suportar sendo que podemos. Todas as vozes dizem que podemos, todas essas vozes internas que lutam contra meus demônios. Só temos que tirar o peso do mundo das costas e deixar que ele escorra pelo chão, se infiltre nas ruas e deixe nossos ombros em paz. Ninguém merece ter que se fazer mais forte do que realmente é, nós não merecemos. A nossa leveza ainda se esconde com a nossa força. Silenciosamente e discretamente, consigo ver que ainda há uma fênix em nós. Ou melhor: somos a fênix. Somos uma única fênix nesse emaranhado de ilusões e derrotas, nossa essência é a mesma e eu estou sentindo o cheiro forte das cinzas. Mas não se preocupe, amor. Somos dessa espécie rara que nunca morre de vez, somos dessa espécie rara que sempre renasce do pó.

domingo, 21 de outubro de 2012

"Por favor, por amor..."


Eu ainda vou viver
Pra ver o que deu tentar prever
Mesmo tempo e as duas cidades
Peito aperta só de olhar para lá

Paraná
Pra falar a verdade há muito eu tô tentando te evitar
mas a solidão instiga e a saudade rasga
nessa vontade inata, renata, de alguma outra vida cármica

Passada
Eu vou passando a minha simples passear
A esperar que caia em si, por si e saiba
Qualquer dia desses aja como eu sonhara há quase uns dez anos atrás, já

Se liberta
Mostra ao mundo todo que você me ama
Atende a suplica da química vem pra cama
Se negue a deixar que o outro impeça o nosso riso
Escuto o som da vida a tocar o nosso hino
Quando a gente acordar junto o universo irá cantar
Todos os medos desses dias tristes virarão dança
Se emancipa e deixa felicidade reinar plena
Arranca de uma vez do meu peito essa tormenta

Por favor
Por amor
Quando você me notar
Acredite ainda estarei

O que me enlouquece é o por quê.
Por que você? Por que eu merecer tanto esse sofrer?
No dia em que você se casar
Me desculpe mas eu não vou poder estar lá
Pra ver quão linda você ficará de noiva
Pra assistir o sim da minha própria perpétua sentença
Mas eu até rezo pra que valha a pena
Sejas feliz, eu hei de suportar ou morrer de amor

Se liberta
Ainda dá tempo mostra ao mundo todo que você me ama
Atende a suplica da química vem pra cama
Se negue a deixar que o outro impeça o nosso riso
Escuta as tuas avenidas a entoar os sinos
Quando a gente acordar junto o universo irá cantar
Todos os medos desses dias tristes virarão dança
Se emancipa e deixe a felicidade reinar plena
Arranca de uma vez do meu peito essa tormenta

Por favor, por amor
Tenta
abafar o medo que te impede de gritar
Abre de uma vez a tampa presa da garganta
E solta em toda fúria vá dizendo que me ama
Quando a gente acordar junto o universo irá cantar
Todos os medos desses dias tristes virarão dança
Se emancipa e deixe a felicidade reinar plena
Arranca de uma vez do meu peito essa tormenta

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Quer fugir comigo?

Um dia, eu bati na sua porta. Não foi assim tão simples, nem ao menos aconteceu. Mas me deixa terminar. Eu bati. Você se lembra do futuro? Porque eu me lembro bem. Eu cheguei com aquele monte de malas e joguei na sua calçada. Você não me esperava, mas minhas pernas me levaram até você. Eu já estava sem forças, sem fé, sem rumo, sem dinheiro, mas me enfiei em um ônibus e fui atrás de alguma sanidade. A sanidade que sempre coube a você me entregar, não que eu quisesse te dar alguma obrigação ou fazer seus ombros pesarem, mas você sempre teve a capacidade simples de injetar calmaria, força, sonhos e sanidade em mim. Uma dose mínima e eu me mantinha firme por um dia inteiro, por semanas até, talvez. E eu fui atrás dessa dose, dessa única dose.

Já não suportava o cheiro sufocante de cigarro pelos bares escuros, pelas avenidas sujas, pelas noite sem fim. Eu queria o cheiro de café, de cigarro e de sono vindo de você, misturados com aquele seu perfume. E fui até sua porta sem saber o que dizer. Com vontade de te beijar, afundar o nariz no seu pescoço e te sussurrar baixinho aquelas bobagens que você conhece bem. Fui até seu mundo querendo me infiltrar de vez na sua história. Querendo deixar de ser um borrão no seu livro e te ajudar a escrever cada mínima linha. Querendo te levar comigo e te entregar tudo que eu sempre jurei te entregar. Ainda não se lembrou desse nosso futuro? Eu me lembro tão bem, amor. Escuta o resto de olhos fechados que eu vou te ajudando a se lembrar.

Eu cheguei, bati na sua porta e te olhei por demorados minutos, não sei bem quantos, acho que te olhei enquanto você permitiu que eu te olhasse, até me fazer te abraçar ou te beijar ou algo assim. Você me levou para qualquer lugar e eu fiquei horas nervosa, sem saber soltar palavras com sentido, sem parar de rir apertando sua mão e sem ter coragem de te largar por um segundo que fosse. Com vontade de te apertar até o fim dos tempos, de apagar todas suas mágoas passadas e de perguntar baixinho qualquer coisa sem sentido para ouvir sua risada perto do meu ouvido. Mas eu não fiquei só na vontade não. Depois de algum tempo, eu perguntei por impulso: quer fugir comigo? Você estava soltando uma risada quando eu disse isso e ficou com um semblante sério no mesmo instante. Eu comecei a suar, meu coração disparou e você levantou uma sobrancelha. Aí eu tomei coragem e continuei:

— Quer fugir comigo? A gente pode pegar os meus trocados da poupança, eu tenho o cartão e tudo. Depois a gente se enfia dentro de um ônibus quente com nossas mochilas e vamos sem rumo. Nada de avião, por favor, avião só se você quiser cruzar o oceano que eu não cruzo de navio nem que me paguem. O que você acha? Se a gente pegar o ônibus mesmo, nas paradas a gente compra uns chicletes, uns óculos escuros, algumas baboseiras para forrar o estômago e alguns chaveiros para pendurarmos ou colecionarmos. Aí depois de dias de viagens, a gente se enfia num hotel no meio do nada e arruma um quarto qualquer para gente se esconder. A gente joga as roupas em qualquer canto, toma um banho, faz nossas besteiras e dorme por horas. E depois a gente se joga na estrada de novo e se perde nesse mundo sem fim cantando qualquer música que fale de liberdade. Quer fugir comigo?

Parei. Você riu do meu nervosismo, você riu da minha cara de idiota, riu da minha fala atropelando as palavras e disse que queria, mas perguntou se eu estava falando sério. Mas depois você disse com todas as letras que sim. Que queria, que arrumaria suas coisas e que era para gente correr. Depois disso, só lembro do vento na cara, da cabeça no seu ombro e do sorriso na boca.

Falei como se fosse passado, sabendo que é futuro.
Não exatamente assim, mas quase isso.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

"E se eu puder fazer por ti o que ninguém jamais fez por mim, eu faço"

Eu te compus uma música no escuro. E te entreguei quando o dia nasceu. Eu não sei compor, não sei rimar, mas tentei. Agora só falta arrumar um ritmo certo, um ritmo que não seja brega. E preciso depois aprender a não desafinar na hora de cantar. Ou canto desafinando mesmo. Depois eu escrevo um livro. Picho um muro na frente da sua casa. Escrevo em um outdoor na rua do seu trabalho. Bato na porta de um astrônomo e peço para ele colocar seu nome em uma estrela bem brilhante. Roubo mil rosas e te dou, imitando Cazuza, só para ouvir sua voz rouca me chamando de exagerada. E conto para o motorista do ônibus sobre você. Escondo meu celular para ninguém descobrir nossos segredos. Puxo sua mão pela madrugada. Beijo seu pescoço antes de dormir. Vou para o litoral, mergulho em alto mar e te dou uma estrela-do-mar de presente de recordação. Te ensino a montar cubo mágico. Te espero mais vinte minutos, te espero mais vinte anos. Escrevo cartas e escondo em lugares que você só achará daqui alguns anos. Cozinho sua receita preferida. Divido minha bebida com você. Divido meu travesseiro. Divido meus sonhos. Vejo o seu filme preferido quantas vezes você quiser. Faço você ver meu filme preferido quantas vezes eu quiser. Depois, depois, depois. Depois te conto uma história bonita. Leio o mesmo livro quantas vezes você quiser. Murmuro que te amo depois de uma briga. E sigo te amando.

Te espero mais vinte minutos todos os dias,
Te espero mais vinte anos em todas as vidas que cabem em mim.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Murmurava tanta coisa...

E me pedia em segredo, aquele monte de bobagens. Ninguém prestava atenção nos sons, nos ecos. Mas ele continuava me pedindo enquanto eu estivesse ali. E eu sempre estava. O coração palpitava, ficava exposto para quem quisesse ver e ele me pedia e repetia. Era tudo segredo. Segredo sacana, mas não era covarde. Não tinha covardia ali. Era a mais pura forma de segredo. Silêncios do tamanho do céu que nos aproximavam enquanto o mar de lençóis nos rodeavam e depois o silêncio sumia aos poucos e dava lugar a mais segredos. Segredos que só nós ouvimos. E todo aquele choque me acompanha desde então, choque que me arrepia cada fio de cabelo, até mesmo os meus raros pêlos do braço. O meu maior segredo e a minha melhor confissão. Ele se escondia entre sonos pesados e me chamava baixinho quando começava a amanhecer, a noite vinha chegando pesada, mas ele repetia: o sol ainda existe, baby, me conta teus segredos também. E compartilhávamos. Nos rásgavamos sem pudor diante um do outro e eu balbuciava quando alguma lágrima queria sair e ele ficava perplexo tentando entender o que estava havendo. Eu só dizia que nada, nada, nada. Mas sem mencionar que sentir tanto me preenchia e que quando o amor aumentava, eu precisava transbordar. Esse segredo ele nunca soube, esse segredo ele nunca ouviu pela minha boca, mas quando ouvia meu silêncio, já entendia bem. Eu transbordava e ainda transbordo amor. Transbordo sem medo do amanhã porque estamos muito além dessa definição de tempo. Ontem, hoje, agora, depois e amanhã... Tudo se embaralha e eu continuo compartilhando meus segredos com você, continuo sentindo tanto choque antes de dormir e continuo abafando qualquer som com algum CD barato que repete sempre as mesmas canções para os meus ouvidos que nunca se cansam de ouvir atentos enquanto eu me perco em nós dois.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Como que eu consigo ficar?

Você me perguntava de todas as formas como que era conseguir ficar num lugar só. Jogava indiretas e tentava arrancar respostas que eu não possuia. Eu só sabia ficar. Eu sempre soube. Ao contrário de você. Eu sempre fui a mais medrosa de todos os medrosos do mundo, mas meu medo nunca foi suciente para me impedir de entrar em quartos escuros e enfrentar todos os monstros que ali se escondiam. Utilizo metáforas para explicar: eu só fico, meu bem. Eu fico mesmo quando tudo indica que já é hora de partir, mas eu nunca respeitei o relógio e seus ponteiros malucos. Eu fico porque apesar de todos os "não" que a vida esfrega na minha cara, ainda existem milhares de "sim" que o vento sopra todo fim de tarde. Mas eu permaneço, sempre permaneci. 

Lembro quando você disse que eu era um pássaro e eu fiquei mais de uma semana tentando organizar essas palavras na minha cabeça. Pássaro, amor? Você é um pássaro. Eu sou no máximo um filhote com asas defeituosas. Sempre quero voar, conhecer o mundo, viajar sem rumo e retornar só no inverno para o meu ninho. Sempre quero, mas nunca posso. Porque eu não passo de um filhote, porque meu coração me pede para ficar ao lado de quem me protege. Mesmo que quem me proteja esteja sempre tão distante, procurando novos horizontes para voar, novas vidas para viver. Eu fico estática e não te culpo. Porque você não tem culpa de usar suas asas, da mesma forma que eu não tenho culpa de ter defeitos nas minhas e de ficar te esperando voltar. E você me pergunta de novo e de novo como que eu sei ficar.

Eu sei que uma hora nós temos que aprender a voar sozinhos, da mesma forma que eu sei que apesar de todos os defeitos das minhas asas, uma hora eu vou saber abrí-las. Tenho a leve sensação de que já voei muito por esse mundo buscando o que eu achei exatamente em você. Penso que em certo momento, eu me amedrontei demais por voar tão sozinha que me encolhi feito um verdadeiro filhote esperando seus carinhos. Porque foi em você que eu encontrei minha proteção para esses dias tão compridos, foi em você que eu achei a proteção contra o frio e o vento que me arranhava inteira. Foi no seu ninho que eu achei meu lugar. Mas você continuou voando, eu fiquei e fiquei e você permanecia me perguntando como que eu conseguia ficar, meu Deus?

Eu só queria que ao invés de você perguntar como, você me pedisse para te ensinar a ficar. Juro que eu ensinaria. De coração aberto.

Ou talvez você poderia me ensinar a abrir as asas de novo.
Adoraria voar com você.

Tanto faz. Só queria sua companhia.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Depois do campo de visão.

Te ver sentado na minha sacada não era meu plano principal. Mas ali está você. Tão lindo. Encostando o queixo no parapeito e olhando para o shopping lá no fundo do horizonte. Você está todo curvado e com as pernas inquietas com o pensamento fixado em alguma parte do mundo que não me convêm saber qual. Queria te invadir, mas você está tão lindo assim que nem tenho coragem de te encostar. Fico sentada nessa mesinha de mármore bem do seu lado só te olhando e fico bebericando meu chá enquanto você não tira o olho do fim do horizonte. O fim do horizonte que você sabe que não é o fim, o fim do horizonte que esconde o aeroporto e todas aquelas casas. Um avião vem chegando devagar e pousa bem atrás do fim do horizonte. E você sorri. Eu fico impotente com o seu simples sorriso para um avião e me pergunto porquê você tinha que ser tão lindo. Seu sorriso fica fixado na sua boca até o avião sumir do seu campo de visão. Você continua na mesma posição e eu continuo escrevendo te olhando. Pouco me importa a cidade lá fora, a vista da sacada é bonita, mas ver você se admirando com o mundo é muito mais incrível. Seu cabelo curto balançando de forma ritmada e você olhando para além do horizonte.

"Já pensou que o ser humano é muito limitado?", você pergunta e eu te olho. Continuo escrevendo e você continua. "O mundo é muito mais do que nós vemos. Esses sentimentos, essas sensações, essa dor existencial que todos sentem, tudo é demasiado exagero. Somos muito limitados.", você suspira e eu te olho. Sorrio e recebo um sorriso de volta. Você sai da posição inicial e se senta na mesa, bem na minha frente. "Queria que as pessoas vissem o mundo como você.", você diz enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e eu sinto minhas bochechas arderem.

"O que eu vejo demais?", pergunto curiosa.
"Você vê além.", você diz apenas. Silêncio. "Eu tenho aprendido com você.", você completa.
"Obrigada.", é tudo que consigo dizer.

Você se vira, volta a observar o horizonte, o shopping, fica esperando algum avião pousar, fica esperando algum barulho te tirar do transe, fica esperando alguém te acordar, fica esperando que eu te puxe e te diga alguma coisa que vá te acalmar, alguma coisa que te faça esquecer da nossa limitação, do nosso minúsculo tamanho, da nossa incompreensão. Mas eu não tenho coragem porque você está tão lindo olhando o mundo ao seu redor.

E eu me sinto quase completa por saber que nós dois vemos além. Mesmo que isso ainda seja muito limitado e não seja o suficiente. A vida exige mais do que isso de nós. Mas você não exige mais do que temos conosco. Eu repito umas três vezes baixinho que você é lindo demais e tiro uma foto sua da forma que você está, puxo fundo o ar e te falo rapidamente:

"A verdade é que foi você quem me ensinou.", você me olha por alguns demorados segundos. Você sorri e volta a olhar a cidade. Eu sei que você me entende. Eu sei que havia sido o suficiente para te acalmar, para me acalmar e para poder continuar te olhando até a hora que for preciso levantar daqui para acender a luz e te levar para dentro de casa.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A cabana que a gente nunca fez.

Eu tinha planos incontáveis para nós, você também. Todo aquele clichê de casinha com jardim e filhos sorridentes. Sem nem pensarmos nas impossibilidades. Enquanto eu dava crises pelas minhas dores inexplicáveis de cabeça, você me acalmava pacientemente falando qualquer coisa no escuro que fazia a dor passar devagar, antes que eu percebesse já não estava sentindo dor alguma. O meu melhor remédio sempre foi você, para qualquer dor. Enquanto o Sol explodia lá fora e o mundo me estressava mais do que eu pensava suportar, você dizia do dia de amanhã e eu complementava com minhas frases bobinhas. Sem pressa e com muita calma. Te suspirava vontades insanas e você queria muito realizar cada uma delas, queria mesmo, eu sei que sim. Insanidade sempre me acompanhou, mas aumentei a dose dessa sensação quando sua voz se aproximava. Um tremelique estranho se apossava de mim e eu fingia normalidade, fingia que o coração não disparava, fingia que o mundo não estava rodando só para poder parar o tempo e te ouvir. Seu bocejo alto demais, sua risada baixa demais, seu tom de voz quando você sorri, seu tom de voz quando você se aborrece. Tudo está marcado em mim, por baixo de toda essa casca que eu uso na frente de qualquer um. Ninguém sabe a razão que me faz olhar para o lado e abaixar os olhos de uma forma melancólica, ninguém sabe o que me faz sorrir do nada.

Reviro meu baú de memórias para juntar uma a uma e me perder por horas e horas nessas noites que a insônia não me larga. Você sabe que eu tenho medo de passar a noite sozinha, mas para não te atrapalhar, passo a noite apenas com nossas lembranças. Tenho coragem de dormir de porta fechada, mas não tenho coragem de ficar de olhos abertos no escuro, por isso que eu fecho os olhos e respiro fundo tentando juntar nossos segredos em alguma sequência lógica. Acabo me confundindo com o que nós compartilhamos e o que foi apenas fruto da minha imaginação fértil. Embaralho todos os pensamentos e me pego sorrindo. A madrugada vai avançando e eu continuo pensando, continuo sonhando e pensando em uma forma de te dizer que meu amor é na medida certa para você.

Todas as noites penso nos milhares de encontros e desencontros que nos acompanham desde sempre, penso nos planos e nos bilhetes. Nos presentes e nos sussurros. Mas em uma noite em especial pensei na cabaninha de cobertas enroscadas pelas cadeiras. A cabaninha que a gente nunca fez. Nós nunca juntamos as cadeiras e nem penduramos os lençóis. Nunca retiramos os móveis do quarto e jogamos almofadas e travesseiros no chão para podermos deitar. Nunca mesmo. Só queria te dizer que eu tenho os lençóis, os cobertores, os travesseiros e as almofadas. Está tudo bem guardado te esperando, te juro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Dormiu?

Tenho andando na ponta dos pés para não acordar meus medos, escrever não me acalma mais e a paz que eu preciso, encontra-se muito longe daqui. Longe em todos os sentidos, literais ou não. Às vezes, me sinto fora da realidade e ando pela casa de madrugada, bebo minha água, já sinto os olhos arderem e vou para sacada acender um cigarro sem que ninguém me pergunte nada, sem que ninguém me olhe enquanto eu deixo as cinzas caírem no mesmo ritmo que minhas lágrimas e sem que ninguém me questione porquê eu tenho fumado, porquê eu tenho chorado. O silêncio da cidade me invade e eu observo os prédios enquanto um cigarro segue o outro e eu já começo a sentir minha típica falta de ar depois de tanto chorar. Se você estivesse aqui, já teria me dado um beijo na testa e me levado de volta para a cama. Mas nem ouso pensar em você porque eu sei, eu sei que você continua. Sempre em frente. Você continua com seus amigos, com seus bares, suas ruas e suas cervejas. E eu só queria que você parasse, parasse e voltasse para pegar na minha mão. Nem que fosse uma vez, uma única e última vez. Eu te implorava o que não se deve implorar a ninguém e eu sei que um dia você vai me odiar por tudo que eu fiz a nós. A sua dor foge inteiramente de você e se aloja em mim nessas noites vagas demais. Todos seus sentidos dormentes e eu completamente desperta. Sinto falta de conversar sobre o nosso amor, dormir serena e acordar desesperada no dia seguinte por ter te largado acordado sozinho. Agora você consegue dormir sem nem ao menos dar sinal de vida. E eu só te espero. A insônia não me deixa. E eu fico esperando. Esperando que a porta se abra ou que meu telefone toque. Mas não. Ainda não. Quem sabe depois.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vôo sem escalas partindo em cinco minutos. Última chamada.

Querido, hoje eu coloquei suas últimas peças de roupas restantes dentro de uma mala bem pequenininha, deixei com o porteiro e dei seu número a ele. Falei bem assim: "Liga e pede pra ele buscar", só. Chorei igual criança enquanto guardava sua camiseta dos "Bananas de Pijamas" e ainda estou com medo de remexer nos seus objetos jogados pelo banheiro porque tenho certeza que há milhares de fantasmas seus entre a sua escova de dente verde-musgo e aquele seu protetor bucal nojento e babado que você usava para fingir que lutava boxe pra depoir vir me fazendo cócegas e me pedir beijo. Como que eu tinha coragem de te beijar com aquele pedaço de gosma na sua boca?

Por que você me largou, baby? Eu sei que pareço uma cantora de músicas desesperadas falando assim. Cantora eu nunca fui, você sabe bem. Mas ah, o desespero já fez morada dentro de mim e tem sido muito frequente todos os dias. Voltei a fumar. Menos pelo vício e mais porque você sempre odiou que eu fumasse. Só que enquanto você ainda estava comigo, isso nem era problema pra nós porque eu largava meus cigarros e abusava de um vício muito melhor que era o vício que eu tinha por você, pelo seu cheiro de natureza depois da chuva e outros detalhes do tipo. Agora que você já bateu a porta na minha cara e nem ao menos tocou a campainha para me pedir perdão, eu tenho certo prazer em segurar um cigarro entre os dedos só para me lembrar da sua voz arranhando dizendo: "Para, amor".

Preciso confessar que já te liguei diversas vezes desde aquele dia. Já te liguei em todos os horários mais inusitados, mas apenas de números que você não conhece. Não quero te dar esse prazer de me ver correndo atrás de você. Liguei de orelhões na madrugada para ouvir sua voz de sono, liguei do celular de amigos no fim da tarde pra ouvir sua voz exausta depois do trabalho. E nunca tive coragem de dizer nada. Nunca tive coragem nem de ao menos fingir que eu era atendente de uma empresa de telemarketing. Ouvia sua respiração, seu "Alô" enjoado de sempre e esperava você desligar. Diversas vezes você ficou uns cinco minutos em silêncio e repetiu o mesmo "Alô" umas trezentas vezes antes de desligar  — me pergunto se em algum momento você sabia que era eu e se você só queria me dar coragem para dizer algo. Coragem que eu nunca tive, coragem que eu nunca vou ter.

Eu sempre me pergunto se algum dia você vai se arrepender, fico horas deitada na cama olhando uma foto nossa que eu ainda não tive coragem de jogar fora e me pergunto se você vai se arrepender. Fico pensando que em algum momento você vai fingir que somos personagens principais de algum filme meia-boca e que você vai vir correndo pro meu apartamento para confessar que não sabe viver sem mim. Fico jurando pra mim mesma que o telefone vai tocar quando eu menos esperar e sempre finjo estar bem distraída, mas me traio dando uma olhadela cautelosa pro celular de cinco em cinco minutos. Eu me pergunto se você não tem remorso por ter me tratado daquela forma enquanto eu só te dava todo amor que havia em mim. Eu só queria que você tivesse um pouco de medo de me perder para quem me achasse andando por aí, que você tivesse medo de que quando eu saísse pelas ruas para beber sua ausência, alguém poderia me pegar no colo e me levar embora. E se eu resolvesse ir embora de vez, amor? Pro Alaska, pro Canadá ou pra Nova Zelândia, hein? Será que você acordaria a tempo de me impedir de ir? Diz que sim.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pedaços soltos de nós.

Junto pedaços seus por todos os cantos, mas quando te observo, você continua todo desconfigurado. Continua com um pedaço rachado e outro pedaço sem encaixe. Aí começa a me olhar com essa cara de quem já não quer mais ficar, só pra ver se eu não te quebro em milhares de pedaços e te deixo livre pra não ser nada. Mas que triste seria, amor. Que triste seria não ser nada. E como eu nunca te obedeci, sempre fui contra tudo que você dizia, eu te empilhava no canto da sala, tomava um café e te observava em silêncio até alguma ideia brilhante aparecer na minha mente. E eu passava noites e dias e madrugadas e estações inteiras tentando nos consertar, mas você nunca percebia, nunca entendia e sempre me olhava com a mesma cara de antes. Eu me encolhia no canto pensando o que eu estava fazendo de errado e você nunca falava. Eu dava tudo de mim e você nunca falava. Eu ficava naquele blábláblá sem pausas enquanto tentava te fazer lembrar dos nossos planos, dos nomes dos nossos futuros filhos, dos nossos cachorros e você ficava naquele silêncio do tamanho de um abismo que eu nunca entendia. Eu me quebrava toda pra ver se alguma pecinha de mim te ajudaria a se reconstruir, eu tentava me encaixar e sempre ficava com uma parte de mim solta. Eu só implorava bem baixo pra você me ajudar, pra você me cuidar, pra gente se cuidar juntos. Mas você não ouvia. E de alguma forma, eu tirava forças não sei de onde, pra me recompor sozinha e lutar por você mais uma vez. Só mais uma. Última vez, promessa. As últimas vezes nunca foram últimas. Não creio que algum dia vão ser.

Eu fico, juro que fico. Mas me pede pra ficar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

Ela acabou com a minha vida e vai acabar com a sua também.

Espero que você saiba onde está se metendo. Essa garota é o inferno em forma de gente. Ela te olha com essa cara de anjo, se apresenta e nos primeiros dias faz todas as suas vontades, depois começa a planejar o futuro de vocês e.... Calma, calma que eu fico até enjoado falando disso. No duro, escuta o que eu tô falando. Depois de uns meses, ela vai acabar com a sua vida. Não, ela não é nenhuma criminosa e ela não vai acabar literalmente com a sua vida. Antes fosse, rapaz. Ela vai brigar com você por qualquer besteira, vai fazer você se sentir culpado por ter desligado o telefone e seu cérebro vai dar pane tentando entendê-la. Tô falando sério, não cai na armadilha dessa daí não. Por favor. Ela fica toda dengosa quando você liga, mas vai chegar um ponto que ela não vai nem te atender só de pirraça, tá entendendo?
(Silêncio)
Ela é terrível.
(Silêncio)
(Suspiro)
Desculpa, me exaltei, eu não devia nem ao menos estar conversando com o atual namorado da minha ex. Mas eis a verdade: eu me refiro a ela dessa forma para tentar aliviar minha dor por tê-la perdido. Ela não é infernal nem nada dessas baboseiras que eu disse, ela não acabou com a minha vida. Pelo contrário. Acho que ela é uma espécie não identificada ainda, um anjo, sei lá. Ela me ensinou o que é felicidade e tenho a leve impressão de que quem acabou com a vida dela fui eu. Mas aí, esses dias, eu estava em um bar com alguns amigos que nós temos em comum e eles me contaram que você tinha aparecido para salvá-la. Daí eu decidi vir aqui te assutar. Eu tô maluco, cara, falando sério. Eu nunca a mereci e o pior de tudo é que eu nem ousei tentar mudar para lutar por ela. Eu me acomodei e quando vi... Puff, ela tinha sumido.
(Silêncio)
Só vim aqui pra te mandar prestar atenção. Na boa. Presta atenção nessa pessoa que você tem ao seu lado, acho que você não sabe a sorte que tem. Tenho certeza que toda felicidade que você sente por ela ter surgido no seu caminho não é nem metade do que realmente significa esse evento extraordinário. Quer minha sinceridade? Pois então. Eu te acho um completo filho-da-puta por estar segurando as mãos que só eu segurei por tempos e tempos, mas talvez você saiba segurá-las melhor do que eu. Não é? Não seja um babaca que nem eu fui, não acaba com a vida dela novamente. Se ela está contigo, ela viu algo que talvez valha a pena em você. Não destrua isso como eu fiz.
(Silêncio)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Três horas, dois minutos e um segundo.

Falamos de nós,
do quanto o ser humano é ruim,
do tempo — que passa cada vez mais rápido —
e de um piriquito elegante chamado Epamilondas.

Eu sou boba.
E a culpa é sua por me deixar assim.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Não nos prendemos, mas ficamos. E continuamos.

Você jura que não vai a lugar nenhum, mas eu sempre acordo assustada no meio da noite esticando o braço pela cama para me certificar que você está por perto. Passo a mão levemente pelas suas costas e você se vira bruscamente para me dar um beijo sonolento. Eu jurava que te perderia se eu piscasse os olhos, por isso fiquei tempos acumulando lágrimas nos olhos só para observar até onde você ia sem mim, mas chegou um ponto que eu precisei piscar, precisei deixar as lágrimas caírem só para poder correr para o lado oposto por alguns segundos e provar que eu sei sim, seguir meu próprio rumo. Mas pra quê? De alguma forma, meu rumo sempre aponta pro caminho que você marcou com suas pegadas.

Você sempre esquece suas chaves, esquece sua carteira e um livro de cabeceira no meu criado-mudo porque você quer ter certeza que eu aparecerei na sua casa para te devolver. E eu sempre esqueço o meu casaco para ter a mesma certeza também. Sempre que eu desço suas escadas correndo, sinto seu olhar na minha nuca enquanto eu atravesso a rua. Fico me perguntando se seus olhos costumam marejar da mesma forma que os meus. Minhas pernas doem implorando para que eu não me desgrude de você, mas é exatamente isso que eu devo fazer para me certificar que serei sempre sua. Minha forma de ser eterna é te deixando livre.

Tenho medo que você cheire outros pescoços e conheça novos perfumes que sejam melhores que o meu, medo que você queime todos os papéis que eu rabisquei e deixei em cima da sua mesa da cozinha — manchados de lágrimas, cigarros e café. Mas ao mesmo tempo, me encho de coragem ao rever seu rosto. Ao observar minhas folhas empilhadas no canto da sua sala. Você me abraça quebrando em pedacinhos meu orgulho e eu só sei fechar os olhos e mergulhar fundo nesse oceano que é o seu abraço. Seu colo me chama quando eu estou distante, meu colo te chama quando você está distante. Você me diz que rola na cama me procurando quando eu durmo na minha casa e eu digo o mesmo. Mas você tem medo de me perder por me prender demais e eu tenho medo também.

Eu não vou a lugar nenhum. Ainda temos muito para eternizar.

domingo, 1 de julho de 2012

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.

"Poucas vezes me senti tão confortável no mundo. E, no entanto, sofria, por antecipação, o grande vazio que seria o resto da minha existência sem ela.
O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdôo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta. Isso eu poderia ter dito a ela. Mas não disse.

Talvez por saber que era o fim, e a gente nunca se comporta mesmo muito bem nos finais; ou talvez por impotência, desamparo, angústia; e também por covardia, não há vergonha alguma em admitir; talvez por tudo isso, e à falta de um nome adequado para a sensação de impotência que me esmagava, o fato é que desabei. (...) caí num choro convulsivo. Chorei de soluçar e de franzir o rosto e fazer caretas, sem nenhum pudor."

Marçal Aquino

segunda-feira, 25 de junho de 2012

(...)

Tudo tem você.

Meu cubo mágico, os gatinhos do meu pai, minhas meias, meu cachorro. A música do Arnaldo Antunes, a música dos Los Hermanos e até aquele sertanejo meia boca. Meu filme preferido, Titanic e até mesmo o do Scott Pilgrim. Minha cama, minha lingerie, minhas roupas. Minha pantufa, meu violão, meus cd's. Meu livro do Mochileiro das Galáxias, o do Caio Fernando Abreu, o do Morro dos Ventos Uivantes e mais ainda o do Pequeno Príncipe. Meus óculos escuros, meu celular, minha webcam. Meu microfone, meu caderno, meu pijama. Meu colégio e as tantas mesas de lá que eu rabisquei seu nome, mas apaguei logo em seguida. Meu blog, meus rabiscos e a minha parede que eu escrevi "18". Meu perfume, minhas fotos, minha preguiça. Meus sonhos, minha insônia e a escuridão do meu quarto. Meu medo, meu frio, meu sono. Meu cabelo, minha mão, meu abraço. O telhado da garagem do meu pai que eu escrevi seu nome. Meu cansaço.

Tudo, absolutamente tudo.
E com tanto "você" por aí, eu só queria me achar no meio dessa bagunça toda.

Arde.

Eu escrevo algumas palavras e apago no instante seguinte. Da mesma forma que eu rasguei todo aquele caderno que seria seu presente. Não há palavra que caiba no que eu quero dizer. Mas o que, afinal, eu quero dizer? Eu não quero dizer nada porque pra você já não devo dizer coisa alguma. E não consigo formular frases com algum nexo. Engulo o choro com cada música que começa a tocar e meus olhos estão ardendo pelo sol, pelas lágrimas, pelo sal, pela injustiça, por você e por todo resto. Não adianta eu querer bancar a culta que sabe fazer bom uso das palavras em momentos de tristeza, eu só estou tentando vomitar tudo que está engasgado para que eu consiga encostar a cabeça no travesseiro sem sentir esse peso terrível por cima de mim, sem sentir essa dor de cabeça, sem sentir essa ardência no olho.

(...)

Mas a verdade é que eu não sei o que dizer e não consigo escrever nada com essa vista embaçada.

domingo, 1 de abril de 2012

Poeira.

Eu poderia encher esse texto com defeitos meus. Mas você insiste em dizer que eu sou perfeita. Não sei como você tem a ousadia de me dizer isso mesmo depois que eu te magoei por falar alguma bobagem. Posso parecer apaixonante nos primeiros dois dias, mas já se foram quase duzentos e dez dias e você ainda me vê como antes. Como pode? A máscara já caiu, eu já deixei minhas fraquezas expostas, já deixei meus defeitos escancarados e você ainda está aqui. Eu jurava que não estaria, eu jurava que se eu te soltasse um pouco, você correria. Mas você não correu nunca. Eu bato o telefone, bato a porta, choro, fico em silêncio e você não me solta. Eu te encho com meus medos e minhas inseguranças, mas você me aperta tão forte que eu decido nunca mais ter medo de nada.

Minha mão treme de maneira incompreensível com essas tentativas de te escrever, eu sei que se você visse meus olhos você entenderia bem. Eu sei que se você pudesse observar cada curva do sorriso que só você cria no meu rosto, eu sei que assim seria mais fácil. Seria mais fácil acordar podendo te ver ao meu lado. Seria mais fácil atravessar a rua segurando a sua mão. E seria mais fácil me deixar cair lá de cima se você pudesse cair junto comigo. Enquanto isso, o sofá parece grande demais, a cama parece grande demais, o apartamento parece deserto e as centenas de pessoas que me rodeiam não parecem nada. Eu trocaria cada uma delas por você. Só para poder me desculpar por ser assim com um beijo na curva do seu pescoço.

Continua me dando beijo antes de dormir que eu continuo cantando quando você pedir. Continua rindo baixinho pra que eu continue sempre te pedindo pra rir mais alto sabendo que algum dia você vai ceder. Continua falando aquelas palavras que saindo da sua boca soam lindas que eu continuo lendo sempre que você pedir. Continua que eu continuo. Nós já havíamos começado, mas agora começamos pra valer. Não me deixa estragar nada, não acredita que meus medos possam ser maiores que nós. Porque eles não são. Eles são apenas aquelas partículas de poeira que aparecem quando a luz do Sol é forte demais. Nós somos fortes demais. Você me deu coragem pra lutar e eu quero poder ser assim pra você também. Nada se compara e vai ser assim até o fim.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Clichê urbano.

Chutei o latão de lixo com certa verocidade e um gato que estava parado nos arredores, soltou um grunhido estridente e saiu correndo. Meus olhos ardiam e eu não conseguia focar em nada, tudo parecia estar se movendo em velocidade rápida demais, menos o mendigo que estava deitado quase ao lado de onde o gato saíra. Queria pedir desculpas por ter espantado o bichano do coitado, mas desisti porque nada saia da minha boca. Se eu movesse meus dentes para soltar qualquer palavra, eu sentiria aquele gosto amargo na língua de novo e as náuseas — que estavam cessando — voltariam com toda a força.

"Mas que merda, Rodrigo...", aquilo estava ecoando na minha cabeça e eu ainda andava a passos lentos demais. Uma puta parada na esquina tentou me puxar pela jaqueta e eu me desvencilhei com certa dificuldade, mas quase me rendi e falei: como pagamento eu te dou um revólver e você me mata, pode ser? Desisti quando os olhos dela se fixaram nos meus enquanto ela ficava me chamando de "garotão", senti nojo e as náuseas voltaram. Quando já havia me distanciado dela, apoiei meu braço num muro e abaixei a cabeça tentando eliminar o que me incomodava. Álcool, cigarro e todas as merdas que me ofereceram estavam se embrulhando dentro de mim e eu só queria voltar há algumas horas antes e mudar o roteiro daquela noite incrível. Incrível. Não consegui vomitar, não consegui voltar no tempo e fiquei parado naquele muro por sei lá quanto tempo. Vendo o chão se mover sem eu sair do lugar.

Enfiei a mão no bolso da jaqueta, peguei meu celular com o visor arranhado e digitei os números que saíam como se estivessem grudados nas pontas dos meus dedos. O braço direito apoiado no muro ainda enquanto eu segurava o celular com a mão esquerda e fechava os olhos para não cair. Chamou quinhentas vezes e ela não me atendeu. Juro que eu contei. Mas não me importei e liguei de novo. Só que para minha surpresa, ela atendeu meio sonolenta e com aquela voz angelical que qualquer um que não a conhecesse bem, se apaixonaria:

— Que foi, Rodrigo? Eu estava dormindo. — E lá estava o anjo queimado pela amargura.
— Quero te perguntar uma coisa. — Meu estômago rodava dentro de mim e eu fui abaixando abaixando abaixando até estar sentado no chão com a cabeça contra o muro. Abri os olhos e observei o muro da frente que estava escrito: "Mais amor, por favor". Quis gargalhar com aquela ironia.
— Pergunta. — Provavelmente ela havia se ajeitado na cama e estava olhando para o teto, como sempre fazia quando estava irritada.
— Você concorda com a frase "Mais amor, por favor"? — Perguntei rindo e ela continuou calada. — Desculpa, não era isso. Só está escrito no muro aqui da frente. — Fechei os olhos e suspirei.
— Pergunta logo. — Ela estava louca para saber onde eu estava e com quem, era óbvio.
— Se eu morresse hoje, Júlia, o que você sentiria amanhã? — Eu estava maluco, não era nada daquilo que eu queria perguntar, mas saiu feito música pela minha boca. Ela não respondeu e já que eu havia perguntado, me mantive firme. — Responde.
— Desculpa, tava acendendo um cigarro. — Ela soprou. — Eu choraria, Rodrigo.
— Você apareceria no meu velório? Digo, lembrando que eu sou um cretino. — O discurso estava pronto na minha cabeça, mas eu não sabia o que estava dizendo. Engoli em seco.
— Apareceria, claro. — Aquele tom de desdém me arranhava como arame farpado passando pelo meu peito e descendo pela barriga.
— E se eu pular na frente de um carro agora falando com você? — Abri os olhos e observei a rua deserta.
— Você não faria isso. — Ela riu e soprou de novo.
— Não? — Vi dois faróis vindos lá longe. — Tem um carro vindo ali... E se você repetir aquele "Que merda, Rodrigo", eu juro por Deus que pulo pro meio da rua.
— Você nem acredita em Deus. — Maldita.
— Foda-se, Júlia. Foda-se! — Eu me levantei devagar e observei os faróis há uns três quarteirões de distância. — Você me deixou infeliz demais. Como pode? Ninguém nunca me fez tão bem nem tão mal quanto você. E agora, Júlia? — Eu senti umas lágrimas ardidas caindo pela minha bochecha e dei um passo pra frente.
— Você começou tudo isso, babaca. — Ela falou como se tivesse certeza absoluta que eu não pularia. Mas e se eu pulasse? Analisei a rua e o carro e a rua e o carro e o celular. Ela ainda me amava, eu não podia causar aquela dor a ela.
— Você ainda me ama? — Perguntei para averiguar minha teoria.
— Não. — Mentira.
— Mesmo?
— Mesmo. — Mentira.
— Fala com todas as letras que não me ama, corre, o carro está chegando. — Ouvi a respiração ofegante dela.
— Merda! — Ela berrou. — Eu ainda te amo. — Soltei uma risada nervosa.
— Obrigada. — Suspirei e o carro passou por mim com quatro bêbados dentro gritando "viadinho".
— Onde você tá? — Primeira pergunta que ela estava se mordendo para fazer desde o começo.
— Na Augusta. — Fechei os olhos, olhei pro céu e olhei pro chão que estava se movendo mais devagar.
— Volta pra casa. — Ela suplicou baixinho.
— Já vou.

(Eu a fazia feliz só de pirraça e quando via, ela me fazia feliz sem esforço algum. Ela pegava meu pulso no meio da noite e sempre me assustava com esse jeito violento de me dar carinho. Eu me aproximava para beijar sua nuca e ela sempre se levantava para pegar água. Ela me pedia pra ir embora e eu sempre ia. Ia embora querendo morrer, querendo me matar, querendo matá-la também, mas sabendo que ela me chamaria. Porque ela sempre chamava e eu sempre voltava. Éramos opostos que não se atraiam, mas estávamos dispostos a contrariar a todos. Contrariávamos as leis da realidade, contrariávamos a nós mesmos e éramos dois fugitivos que se amavam acima de tudo. Vivíamos pelo impulso, pela urgência. Vivíamos como se estivéssemos com as armas apontadas contra nossas cabeças. Contando sempre os minutos para o fim chegar).

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Telefone.

Fazia tempo que eu não te escrevia nada. Minha cabeça chegava a doer com tanto pensamento que eu não expunha por medo. Era medo de parecer mais fraca do que eu sou, medo de parecer que eu estava num caminho sem volta. Mas foi falando com você no telefone ontem que eu percebi o que sempre foi claro demais, mas que eu tentei negar para mim mesma nos últimos dias: eu não preciso ter medo de tudo isso porque já é óbvio que eu estou realmente num caminho sem volta e se isso é sinal de fraqueza, como diria Lulu Santos: pois que seja fraqueza então. Porque nada se compara ao tanto que minhas mãos ficam geladas quando você me chama daquela palavra que começa com a, nada se compara ao tanto que eu fico risonha olhando o céu enquanto falo com você ou olhando o céu enquanto penso em você, nada se compara a você pedindo desculpa porque acha que eu fiquei brava com algo que você disse e nada se compara a você me dizendo meio baixo, segundos antes da bateria do celular acabar, que eu te fiz mudar muito. Será que você não percebe que se eu fiz isso é porquê você fez algo muito grandioso comigo e em mim também? Você salvou meus dias, eu sempre te disse. E até naqueles nossos tempos de brigas, de tentativas inúteis de te tirar da minha vida, meus dias só tinham algum sentido quando eu te mandava alguma mensagem só para saber se você estava bem ou quando eu te ligava, só para ficar em silêncio e chorar baixinho no seu ouvido. Eu achava que era mais forte do que tudo isso, mas isso é mais forte do que todo o resto. E além de salvar os meus dias, você me ensinou a me esforçar para assumir meus erros, erros bobos ou erros até mesmo grandes que com certo custo, eu tento assumir e se não assumo, eu te peço desculpas sussurrando. Além disso tudo, você me mostrou uma verdade óbvia: a gente pode ter tudo na vida, mas sem amor tudo vale nada. Não pensa, então, que foi só você quem mudou. Porque eu não só mudei, como consegui sair de um caminho escuro demais que eu não achava que teria fim. Mas teve. Você chegou trazendo lápis de cor e milhares de luzes, vagalumes (cegos) e estrelas que não se apagam nunca. Eu mordi a minha língua porque achava que sabia o que era amor antes de você, mas você chegou para me mostrar que eu estava errada e que toda a teoria que eu acumulei durante esses anos, não serviriam de nada na prática entre nós. Joguei fora tudo quando eu senti o que estava nascendo. Ignorei a lógica enquanto sentia meu coração disparar com você falando do outro lado que a minha voz era a melhor do mundo. Amor não é isso ou aquilo que dizem os escritores famosos; amor varia de pessoa para pessoa. E para mim, amor é: para cada razão que surgir para querer desistir, aparecer mais um milhão de razões para querer insistir. Amor, pra mim, é você. Sem dúvida ou questionamento. É e ponto.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A história inacabada.

Todos os dias, uma folha branca terminava repleta de rabiscos inacessíveis a outras mãos que não fossem as minhas. Foram cento e quatorze folhas inundadas de sentimentos que eu não compreendia, cento e quatorze folhas de palavras que saíam sozinhas depois que eu lambia meus próprios lábios lutando contra esse impulso que vinha de dentro pra fora e de fora pra dentro. Era uma guerra diária. Eu lutava comigo mesma e sempre perdia. A minha parte vencedora, ria de mim enquanto estrangulava meu pescoço e me sussurrava as palavras que deviam ser despejadas no papel. Eu escrevia obediente e nem pensava em controlar minhas mãos que adquiriam vida própria.

Não havia começado com "Era uma vez..." e muito menos com qualquer outra tentativa de tornar a história brilhante. A voz que resmungava rouca no meu ouvido me insistia para por toda a realidade podre do mundo nas folhas e eu obedecia. Os amores ali expostos nada tinham de bonitos e eram regados por álcool em todas as quintas, queimados por cigarros em todos os dias e aquecidos por um café amargo demais. Quem lesse sentiria arrepios de agonia e não compreenderia palavra alguma. Nem eu compreendia. Eu só seguia o impulso. O impulso me pedia mais ardência nas paixões, mais brigas nos romances e eu obedecia. Chegava a dar dó das personagens.

Eu sempre acordava com uma ressaca terrível depois de virar a noite escrevendo. Ressaca alguma se compara com a ressaca de estar matando aos poucos o que de belo havia em mim. Ressaca alguma é pior do que a ressaca do excesso de palavras usadas. Palavras que poderiam ter sido jogadas debaixo do travesseiro, mas que insistiam em serem desperdiçadas jogadas nos papéis. Eu me contorcia tentando fugir da voz e não adiantava porque ela vencia todos os dias. Eu não sentia prazer algum sentindo tanta pena das minhas personagens, mas eu não podia salvá-las. Não podia pedir que elas fugissem enquanto houvesse tempo porque não havia tempo algum. Eu as controlava e a voz me controlava. O ciclo era infinito e eu não sabia o que fazer.

No dia em que eu iniciaria a folha cento e quinze que tudo mudou. Eu despertei e entendi o sentido de toda aquela guerra. Estava preparando meu café ouvindo a voz me cuspindo as próximas palavras e sorri. Sorri porque eu havia entendido tudo. A guerra travada comigo mesma tinha a ver com o medo de me encarar e de aceitar meus sentimentos. Pela primeira vez em cento e quinze dias, eu venci a mim mesma. Sem a ajuda de ninguém. Não precisei me apoiar em nenhuma certeza incerta. Não precisei recorrer a amores ou amantes. Eu fui salva por quem poderia me salvar e me destruir: eu mesma. Lambi meus lábios como da primeira vez e escrevi em letras grandes na página cento e quinze: FIM. Eu e as personagens estávamos livre. Mesmo com a história inacabada.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A Lua virou Sol e eu ainda não preguei os olhos.

Não precisa girar a chave hoje, amor. Na verdade, só coloca a chave embaixo do tapete e volta pro elevador. Hoje é dia de juntar papéis e embolar todas as mentiras para incendiar, mas eu preciso de mais fósforos pois os que eu possuo não serão suficientes. Fico analisando cada mísera palavra que saiu da minha boca e vejo todas se esvaindo pelo ar como fumaça, as que foram escritas no papel estão em alto relevo querendo pular para fora das linhas e esse gosto amargo na minha boca não me deixa recuperar nenhum "eu te amo" e nenhum "sempre vou amar". Não tem como recuperar o que era dito para um alvo abstrato. Eu me joguei de tantos precipícios porque achava poético saber que tinha você para me fazer flutuar e por mais que eu soubesse que essa hora chegaria, eu não achava que cairia de forma tão violenta contra essas pedras. Não há mais poesia quando eu me encontro cara a cara com a morte. A morte do que nunca chegou a ser e eu fingia não saber.

Os CD's arranhados jogados pelo quarto, as folhas voando com o vento cortante que entra pela janela, meu violão esquecido em cima da cama e eu fechando as portas com cuidado para não acordar ninguém. A noite chega ao fim com esse cheiro de álcool exalando por todos os poros e a minha imagem se mantém irreconhecível no espelho do banheiro. Olhos tão vermelhos me encarando e eu sei que se fosse há dias atrás, sumiriam enquanto eu dormisse tranquila sabendo que meus medos eram bobos demais para serem levados a sério. Agora, esses malditos olhos vermelhos, insistem em me acompanhar aonde quer que eu vá. Só para me lembrar que mais uma vez aconteceu o que eu jurei que não aconteceria jamais. Apago todas as luzes e procuro a posição mais confortável pro sono me alcançar, mas sei que é em vão. Eu pisco e nenhum resquício de sonolência me invade, só essas lágrimas azedas que já não sabem se caem ou acumulam-se no canto do olho para me embaraçar a visão.

Vou continuar embaralhando qualquer detalhe seu com qualquer detalhe meu só para mostrar pra mim mesma que não tem como encaixar. Eu jurava que tinha, mas não tem. A válvula de encaixe era a verdade e a verdade, amor, pra onde ela foi? Somos como um daqueles brinquedos de montar que a gente chuta no meio da sala sem querer e os pedaços voam para todos os cantos. Como um cristal qualquer que por um descuido foi arremessado contra a parede do apartamento. Como qualquer coisa que era frágil demais e eu insisti em fechar os olhos, mas que o susto me fez enxergar. Abri os olhos bem quando os cacos estavam voando janela a fora. Eu me jogaria do décimo segundo andar para correr atrás de cada pedacinho. Mas o que viria depois?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mentiras e finais.

— Eu corria do mundo pra me esconder em você e agora vou ter que correr pro mundo pra me esconder de você.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tem sentido.


Nós vimos meu filme preferido juntos, você disse que eu pareço com a mocinha e eu fiz uma comparação idiota dizendo que mesmo que eu te apagasse da minha memória, igual ela, eu também te reencontraria por aí. Não seria em Montauk que está longe demais de nós dois, mas seria talvez ali na capital. Ou em qualquer outro lugar na metade da estrada. O que importa é que eu te reencontraria e mesmo sem me lembrar de nada sobre nós dois, não seria necessário mais do que alguns minutos para eu me re-apaixonar por você e te falar, meio estabanada, que iria casar com você. Tenho essa mania estranha de nos encaixar em qualquer história que eu leio, em qualquer filme que eu vejo ou em qualquer música que eu escuto. Tem algum sentido nisso?

O dia só corre bem ou só termina realmente bem quando eu consigo desenroscar esse tanto de palavras que eu tenho pra te falar. Algumas vezes eu desenrosco tagarelando no telefone e outras, eu só deixo tudo bem guardado nos meus papéis. Tudo fica meio torto e pela metade se eu não te conto. Igual daquela vez que eu caí no shopping e te liguei meio chorando e rindo. Igual das outras vezes que eu te contei histórias de anos atrás como se fossem recentes só para nos colocar numa máquina do tempo e te mostrar que tudo só faz realmente sentido se eu compartilho com você. As histórias da infância ou qualquer coisa do meu dia-a-dia, tudo está recheado de você. Mesmo que você não tenha dançado comigo, mesmo que você não tenha me ajudado a levantar quando eu caí. Mesmo assim. Tudo tem você. Tem algum sentido nisso?

Sempre me imagino arrumando as malas pra fugir com você, me imagino realizando tudo que a gente planeja, me imagino acordando bem do seu lado até meus noventa e seis anos e eu sempre sei, claramente, que é pra esse rumo que nosso destino aponta. Não adianta correr, não adianta ser pessimista porque a força disso tudo é maior do que qualquer outra coisa. Não adianta dizer que amor não é suficiente porque você me mostrou que amor é mais do que suficiente. Amor misturado com essa sede de nós dois, amor misturado com deslumbramento, amor misturado com realidade, amor misturado com paixão, amor misturado com todos os sentimentos bons que podem nos rodear. Eu sei que pegar na sua mão vai ser sempre a minha calmaria e que te beijar vai sempre despertar em mim tudo que eu achei que não sabia sentir. É o maior amor do mundo. E sim, tem sentido em tudo isso.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Estrelas não existem só no céu.


De longe, dá pra te observar. Tranquila e sorridente. Se eu paro para te observar melhor, vejo um misto de criança bem ali no meio do seu olhar e eu tento entender que foi que aconteceu enquanto você nascia que te faz brilhar desse tanto. Brilho ofuscante. Brilho de estrela mesmo, sem exagero nenhum. Comparar você com uma estrela não tem sentido, visto que você é uma. Nunca vão saber explicar, nem sua mãe, nem seu pai e nem ninguém vão entender o que eu não entendo: que foi que aconteceu que fez essa menina brilhar tanto? Ninguém tem a resposta. Há especulações de que você caiu do céu, digo desse jeito bem brega e clichê, mas é o mais próximo da verdade.

Dá pra contar das brincadeiras, dá pra contar dos tombos que você tanto levava enquanto tentava se manter em pé nos patins, dá pra contar da sua mania de vender pipoca usando a bicicleta como carrinho aos seus oito anos. Dá pra te ver contar e recontar essa histórias deixando as lágrimas caírem depois de tanta risada. Dá pra ouvir qualquer história sua porque qualquer história sai em forma de riso. Dá pra ter reflexões sérias a respeito da vida, do ar, da rua, dos nossos pais. Dá pra te ver chorar de medo de escuro e te dar uma risada como consolo. Com você, dá pra fazer qualquer coisa. Dá pra aprender, dá pra ensinar.

Não deixa a vida te endurecer, não deixa ninguém te dizer o que fazer com seu caminho. Não deixa as pessoas se imporem e tentarem mandar nas suas decisões. Não deixa tentarem arrancar essa criança que tem no seu olhar. Não deixa tirarem seu sorriso constante. Não deixa. Junta seus patins, sobe pela escada, pega sua bicicleta e vende pipoca. Eu sei que pra uma estrela enfrentar esse mundo deve ser difícil, mas vai em frente. Sempre em frente. Ninguém tem o previlégio de guardar dentro da alma esse brilho todo que você guarda, mas eu tenho o previlégio de te acompanhar, de te entender e de te ver brilhar. Obrigada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Viajar.




Se eu pudesse alterar a rota, eu alteraria. Rasgaria qualquer mapa, ludibriaria o piloto. De nada me vale chegar no destino considerado certo se não é você quem vai me receber. Sem abraços na sala de desembarque, só uma mensagem no celular perguntando se fiz boa viagem. Apesar de você estar comigo em todos os cantos, só onde você se encontra em carne e osso que é a resposta certa pra qualquer questionamento. Entrar no avião, entrar no ônibus ou entrar no carro... Tudo faria maior sentido se o destino fosse você. Mas uma hora vai ser. Tem que ser.








quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dom Casmurro.

"Entretanto, a matéria das nossas conversações era a de sempre. Capitu chamava-me às vezes bonito, mocetão, uma flor; outras pegava-me nas mãos para contar-me os dedos. E comecei a recordar esses e outros gestos e palavras, o prazer que sentia quando ela me passava a mão pelos cabelos, dizendo que os achava lindíssimos. Eu, sem fazer o mesmo aos dela, dizia que os dela eram muito mais lindos que os meus. Então Capitu abanava a cabeça com uma grande expressão de desengano e melancolia, tanto mais de espantar quanto que tinha os cabelos realmente admiráveis; mas eu retorquia chamando-lhe maluca. Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nomes, a fim de dar a outros anjos que acabavam de nascer. Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu tinha com ela não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e muita vez não passavam da simples repetição do dia, alguma frase, algum gesto. Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus; eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava... Fez-se cor de pitanga."

Machado de Assis

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A gente tem que reagir.

Eu saio do banho e você insiste em enroscar cada mecha molhada do meu cabelo ao redor dos seus dedos enquanto eu me mantenho no sofá. Você fica sentado no chão nesse movimento insistente e ficamos os dois em silêncio. Quando você para, cheira sua mão e sussurra qualquer coisa querendo saber o nome do meu shampoo novo. Eu dou um sorriso desafiador enquanto cheiro as pontas dos meus fios e resmungo que não lembro. Você faz sinal me pedindo pra te dar uma beirada do sofá e eu levanto o pescoço para que você se sente e eu afunde minha cabeça no seu colo. Você estala todos seus dedos, um por um, enquanto fica me olhando. Eu fecho os olhos porque não aguento quando você tenta me invadir desse jeito e abro os olhos subitamente quando suas mãos frias afundam no meu busto e fazem um carinho forte o suficiente para deixar nossas peles com a mesma temperatura.

"Vamos viajar", você sussurra e eu encaro o teto antes de te olhar. Eu penso antes de responder e te encaro para ter certeza do que você diz. "Pra onde, amor?", eu pergunto apoiando minha mão na sua fazendo com que você pare subitamente com o carinho. "Esquece, pensei alto". O silêncio volta e eu começo a murmurar aquela nossa música antiga. Aquela que você nem deve se lembrar que é nossa música. "Que que cê tá cantando, meu bem?", você pergunta com um sorriso tímido e me sinto de volta há cinco anos atrás quando esbarrei contigo na porta daquele pub que poderia ser o cenário de qualquer tipo de história, menos de uma história de amor. Por isso que eu me pergunto se nossa história é realmente de amor. "Tô cantando nada não", eu te respondo sentindo minha garganta arranhando e continuo cantando e continuo lembrando. "Lembrei...", você solta em forma de sopro e pede pra que eu saia do seu colo. Eu levanto rápido com o coração disparado e você começa a mexer nos seus CD's do outro lado da sala. "É nossa música, não é?", você pergunta como se tivesse descoberto um novo continente e eu sorrio impotente enquanto você procura desesperado por um CD que, provavelmente, você já jogou fora.

Você desiste de procurar o bendito CD e volta para o sofá, com um olhar de quem havia perdido o mapa de qualquer tesouro valiosíssimo. Continuo apenas sentada ao seu lado, decorando novamente todos os traços do seu rosto que eu já havia decorado muito bem. "Lembrei de quando a gente quase fez amor com essa música...", você sorri e entrelaça minhas mãos com as suas. "Você lembra?", eu pergunto surpresa e aliviada. "Lembro muito bem, mas seus pais chegaram em casa, não foi?", eu faço que sim com a cabeça. "Que bom que você lembrou", eu lambo meus lábios querendo que fossem os seus, mas eu sei que é cedo para qualquer re-aproximação. "Quando foi que a gente morreu?", eu pergunto baixinho e você me olha assustado. "Repete?", você suplica e eu deixo escorrer uma lágrima. "Esquece, marújo", eu solto uma risada e você levanta uma sobrancelha. "Eu ainda visto aquela fantasia de novo pra você, sereia", meu peito se lota de alguma coisa semelhante à felicidade e eu gargalho, mas repito a pergunta logo em seguida: "Quando foi que a gente morreu?" e você não diz  nada.

Você me pede para levantar do sofá rapidinho e se deita, me puxando pela mão logo em seguida, me fazendo deitar sobre você. Minha cabeça fica no seu peito e eu começo a ouvir seu coração batendo num ritmo frenético demais. "Que foi com seu coração?", eu pergunto em tom de brincadeira e você não fala nada, só enrosca suas mãos pela minha cintura, me balançando de um lado para o outro. Eu fecho os olhos e sem ver, deixo escorrer uma lágrima. "Que foi que você tá chorando? Que foi que eu fiz?", você pergunta preocupado e beija o topo da minha cabeça umas trinta e sete vezes. "Nada, meu amor. Nada não", eu só sussurro e passo os dedos pelo seu peito para secar o pouco que eu havia te molhado. Começo a sentir você aspirando fundo o cheiro do meu cabelo.

"Ontem eu sonhei que nós dois fomos pra serra, igual você falava pra gente fazer.", você começa um novo assunto. "Por isso que você falou pra gente viajar?", pergunto baixinho e você ainda me embala de um lado para o outro deitada em cima de você. "Foi.", seu coração não diminui a velocidade e você fala: "A gente tem que reagir, coração.", você fala em tom de súplica e eu te dou um beijo no peito bem no rumo do seu coração. "Tem...", eu fecho os olhos e você me puxa para cima pela nuca pra poder depositar um beijo na minha boca. "Acredita em nós, por favor.", você pede e eu me mantenho em silêncio. "Acredita, sereia.", eu dou um sorriso e deito minha cabeça exatamente onde ela se encontrava há três segundos. "Eu já entrei a bordo, preciso aprender a andar com essas pernas...", eu embolo as palavras e engasgo com as lágrimas que estão prestes a sair. Não ouso te olhar nos olhos de novo e continuo perguntando murmurando "Quando foi que a gente morreu?" e você só começa a murmurar coisas que eu não entendo. Fico deitada em você até pegar no sono. A gente tem que reagir.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Lua cheia.

Era inverno quase primavera, dia quatorze, a lua estava cheia em áries e estava marcado no calendário de destinos que o meu estava para mudar naquele dia. O seu também. Não imaginávamos, com certeza. Eu estava acostumada a falar sobre música com tantos estranhos, mas foi falando contigo daquela que fala sobre Sabrina no país das maravilhas que houve uma chacoalhada no cosmos e o universo parou para ver a gente se aproximando. Houveram dúvidas, há quem ainda não acredite e há quem nunca vai acreditar, mas o nosso encontro estava mais parecido com qualquer espécie de reencontro. Você não me era estranho, você se encaixou tão bem que eu tenho certeza que se existiram vidas passadas, de fato, nós já nos encontramos numas quinhentas anteriores a essa.

Desde então, seguimos sempre em frente um ao lado do outro. Mãos dadas nesse laço invisível e beijos depositados no canto da boca depois de serem jogados pelo vento todo começo de dia ou todo fim de noite. Nunca houve sorriso mais sincero. Nunca houve certeza maior, apesar da minha chuva de medos. Insisto em andar descalço ao seu redor para não acordar seus medos e insisto sempre em te olhar dormindo para me assegurar que seus pesadelos não te atormentam. Quero te dar a segurança que eu sei que sou capaz de te oferecer, quero manter nossos passos leves como eles são. Podemos ser intensos demais, mas não transparecemos porque a certeza nos mantêm nos eixos. A certeza não nos deixa quebrar, a certeza não nos tira dos trilhos.

Agora já é verão, a lua mudou dezesseis vezes e está cheia novamente por coincidência. Eu me encostei na janela por uns vinte minutos enquanto a chuva caia. Fiquei buscando no fundo da cabeça qualquer explicação e decidi que não somos dignos de explicação nenhuma. Até porque nada seria plausível o suficiente para englobar tanto sentimento e em meus breves anos de vida, eu aprendi que sentimento nenhum deve ser explicado. O que acontece com nós, não cabe no entendimento de ninguém — nem de nós dois. Algumas pessoas juram que estamos sempre prestes a cometer algum erro imperdoável e eu sorrio. Sorrio porque por mais que eu insista em te atormentar com minhas dúvidas, sempre me surge na cabeça aquela certeza que eu tanto falo: somos nós.

Somos nós. Eu sou pra você e você é pra mim. Estamos só começando. Ainda há muitas mudanças de fases da lua pra gente presenciar. Ainda há muitas mudanças de estações pelo caminho. Ainda há muita vida minha para se misturar com a sua. E se existem vidas futuras, de fato, vamos nos encontrar numas quinhentas depois dessa.

"Não desistirei de nós
Mesmo se os céus ficarem violentos..."

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Asfixia.

— Você acha que é simples?
— Acho. — Caio respondeu enquanto dava uma última golada no seu copo de whisky olhando pela janela.
— Não é nada simples! Porra, Caio, olha pra mim!
— O que foi? — Ele gritou me encarando com os olhos vermelhos e fiquei estática observando uma lágrima ou duas escorrerem por suas bochechas. — O que você quer, afinal, Daniela?
— Nós dois. — Sussurrei como uma criança envergonhada.
— É? Você quer nós dois? — Ele se aproximou e começou a roçar sua língua no meu pescoço, revirei os olhos enquanto ele me puxava pela nuca. — Deixa eu te dizer uma coisa... — Ele puxava meu corpo contra o dele com tamanha força que eu não conseguia mais raciocinar. — Nós já temos nós dois, mas você insiste em complicar isso. — Ele terminou de falar e se afastou brutalmente, andando para o outro lado da cozinha.
— Pra você é muito simples! Pra você é ridículo de tão simples... Não basta viver de festinhas! Não basta! Eu quero uma vida com você, mas você quer continuar sendo o moleque mimado de sempre. Você usou as táticas certíssimas para me prender e agora que conseguiu o que queria, esquece que eu existo. E continua aí, com essa cara de sonso, achando que tudo é simples! Nada é simples, Caio! — Eu berrei enquanto saia da cozinha, mas ele me puxou pelo braço antes que eu chegasse até a sala.
— Me fala, então... Me fala o que você quer de mim. Fala qualquer coisa que eu faço. Não aguento mais essas brigas. — Os olhos dele estavam fundos e me encaravam implorando por piedade.
— Eu não posso exigir nada de você. — Suspirei.
— Pode e deve. Eu sou completamente seu. Mas você não acredita. Então, eu te dou esse direito de exigir o que quiser. Exige e pede que eu cedo. Juro que cedo. Juro! — Ele afrouxou os dedos ao redor do meu braço e seus lábios começaram a tremer.
— Você está bêbado, amanhã não vai lembrar de nada.
— Eu estou consciente, eu sei dos meus erros e você tem razão: nada é simples. Mas eu quero descomplicar pra você. Eu quero fazer você voltar a sentir o que sentiu no começo. Eu quero te mostrar que eu não mudei. — Ele se aproximou bastante e novamente me puxou pela nuca, mas não fez nada além de afundar o rosto no meu ombro e logo depois se desabou em lágrimas.
— Para de chorar. — Senti um aperto no peito enquanto meus ombros ficavam molhados.
— Para de fazer assim comigo. — Ele murmurou cheirando meu cabelo.
— Desculpa pelos insultos. — Comecei a organizar meus pensamentos enquanto envolvia meus braços ao redor do seu tronco sem camisa. — Eu não quero ter que exigir nada de você, eu não quero que você pense que eu não sinto mais o que eu sentia no começo, eu não quero que você ache que existe a possibilidade de que eu desista de nós dois, eu só quero que você se lembre de como tudo era no início e compare com nossa situação agora. Eu estou exausta e você também. Onde é que nós paramos, Caio? — Ele levantou o rosto para me olhar e deu um meio-sorriso.
— Nós não paramos. Nós só corremos demais. — Ele enxugou o rosto e respirou fundo. — Nós tivemos pressa, quisemos adiantar o futuro pra ontem. Quisemos virar adultos quando éramos duas crianças se apaixonando. — Ele cruzou os braços e se encostou na parede do corredor enquanto me olhava, eu me encostei na parede oposta e fiquei de frente para ele. — Eu não me arrependo disso, mas deveríamos ter ido com calma. O problema é que não existe calma entre nós dois, nunca existiu.
— Eu tive mais pressa que você.
— Eu me joguei fundo logo de cara e você teve pressa de me salvar, mas acabou mergulhando comigo. Deveríamos ter subido até a superfície, talvez. — Ele esticou o braço o suficiente para acariciar meu rosto e eu fechei os olhos com aquele toque.
— Agora já estamos aqui, bem no fundo. No mais fundo que poderíamos chegar. E é disso que eu estou falando quando digo que não é simples. E se a gente se afogar? Tudo está desandando esses tempos.
— Nós não vamos nos afogar, Dani. Não vamos. Eu posso te dar esse trabalho todo e você também, mas nós temos um ao outro. Me perdoa por errar assim. — Ele me puxou pelos braços e me abraçou de novo.
— Me perdoa por errar assim também.
— Você já percebeu que nós sempre acabamos as brigas dizendo coisas meio poéticas? Eu não era assim até você aparecer. — Ele soltou uma risada gostosa de se ouvir, mas seu semblante ficou sério logo em seguida. — Não queria te sufocar com meu amor.
— Você não me sufoca. — Senti as lágrimas borbulharem. — Pelo contrário.
— Pelo contrário?
— Você é o ar.
— Isso foi poético demais pra mim...
Ele riu enquanto se aproximava de mim para me tirar o fôlego novamente. Nesses momentos eu tinha uma súbita certeza que ele era mesmo o ar. O ar e todos os outros elementos. O ar, a terra, o fogo e a água. Meu mundo entraria em desequilibrio sem a sua presença. Eu entraria em colapso sem a sua presença.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Como as tempestades funcionam.


O vento sopra segredos do lado de lá, já nem preciso encarar o horizonte com os olhos semicerrados porque as gotas de chuva não me deixam enxergar direito. Eu só sinto. Sinto os olhos arderem, sinto os cabelos se embaraçando, sinto a tempestade chegando. Ela se aproxima sempre disposta a causar catástrofes, disposta a destruir tudo que surgir pela frente, disposta a virar notícia na televisão, disposta a destruir e levar consigo tudo que eu tenho de bom dentro de mim. As chuvas tentam lavar qualquer sinal de amor, os ventos tentam arrancar qualquer sorriso ou qualquer resquício de paz. Os telhados voam, as minhas ruas inundam, mas nada se destrói. Nunca. Minha paixão por tempestades não é atoa porque eu sei que elas existem para me mostrar como eu sou forte. Enquanto eu sinto cada gota escorrendo pela minha testa, descendo pelo meu nariz, parando em minha boca e escorrendo para o pescoço, enquanto as gotas encharcam os pedaços de pano que me cobrem, enquanto as ondas elétricas se misturam com os tremores de frio, eu me sinto como eu devo ser: forte. Eu jurava que não sabia lidar, que não sabia me segurar na borda de qualquer abismo que fosse, que eu não sabia sentir nada além dessas agonias, mas a tempestade veio para me mostar que não, que eu posso sentir, que eu posso me segurar porque eu tenho força suficiente para não me deixar cair e que eu também sei amar. Quando o céu para de chorar e minhas lágrimas se cessam, eu me sinto renovada. Pronta para provar para qualquer um que eu posso ser esse amontoado de defeitos, mas que em algum canto da minh'alma há algo que vale a pena ser eternizado. Algo que tempestade nenhuma consegue lavar. Em certos momentos, eu fico abismada e percebo que eu sou a tempestade. Eu tento me destruir, mas não consigo. Eu sou a tempestade, mas eu sou brisa também. Eu sou a tempestade, mas guardo feito rocha o que merece ser guardado. Deixa chover que daqui a pouco abre o Sol. É assim que funciona.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Camille e seu esmalte.

Camille,

Será que ainda é possível te chamar de minha? Ando pensando que você nunca foi inteiramente minha, infelizmente. Nem quando você olhava no fundo dos meus olhos e jurava por Deus que era comigo que você queria viver todos os seus dias... Nesses momentos era sua carência de afeto gritando, não era? Porque você nem ao menos acredita em Deus, Camille. Mas eu acreditei em nós dois. Mesmo quando você pintava sua boca e saia sem hora para voltar, eu ficava deitado naquele sofá te esperando. Eu te esperava por horas, passava a mão naquele gato rabugento, tentava me distrair com a televisão e aí você chegava. Quatro ou cinco da manhã. Meu peito que quase explodia de preocupação e de saudade se esvaziava subitamente. Lembro bem de cada sorriso que você me devolvia quando chegava em casa, eu não dizia nada e nem reclamava por sentir aquele gosto de vodka quando você vinha me beijar. Eu te aninhei em meus braços por tantas madrugadas enquanto você deixava suas lágrimas rolarem e sua maquiagem borrar completamente. Eu te acariciava até pegar no sono, te carregava até a cama e não te fazia pergunta nenhuma porque, como eu disse, eu acreditava em nós.

Não sei se você está se perguntando, mas agora eu estou em um apartamento bem menor que o nosso. Num bairro bem mais horrível e cheio de mulheres perdidas em cada esquina. Ontem eu saí para beber um pouco e acabei bebendo muito. Na volta pra casa, uma mulher estava parada com um cigarro e um vestido bastante justo bem na porta do meu prédio. Eu a olhei por alguns segundos e jurei que era você. Até chamei seu nome baixinho e ela sorriu maliciosamente para mim quando viu meus lábios se mexendo. Mas por aquele sorriso, eu voltei para a realidade e vi que não era você, seus sorrisos absorviam toda a paz que te rodeava e mesmo qualquer tipo de sorriso malicioso, era bonito de se ver. O daquela moça não, era um sorriso sujo. Ela começou a puxar papo e eu a trouxe aqui para cima. Camille, nojo foi tudo que eu senti. Nojo de mim, nojo dela, nojo do mundo e nojo da minha incapacidade de seguir em frente. Mesmo que você tenha me esquecido, ainda está pisando com seu salto agulha no meu peito. Eu não consigo seguir em frente e às vezes, quando estou bêbado eu me olho no espelho e sinto saudades de quando minha embriaguez se resumia a engolir suas lágrimas no escuro.

Durante nossos anos juntos todos momentos importaram, obviamente. Mas houveram duas situações que mexem com meu psicológico até hoje. A primeira situação ocorreu nos nossos primeiros meses juntos, lembro bem que pegamos um pouco de vinho, alguns cigarros e fomos para o topo de um morro não muito longe da cidade. Quando todo o vinho já havia se esgotado e quando você já estava deitada sobre minha camisa, eu contava as estrelas silenciosamente. Não sei se foi uma alucinação, mas eu e você, vimos juntos aquela estrela cadente e fizemos nossos pedidos. Eu sussurrei no seu ouvido o que havia pedido e você me deu um tapa no braço enquanto ria com a boca aberta, eu estava sem entender a graça e você disse: "Agora que você contou, não vai ficar comigo pra sempre". Eu ri também, claro, mas desde aquele dia, eu estremecia com medo de te perder, parecendo um garoto superticioso, mas veja só onde chegamos. Eu devia ter ficado calado, não é mesmo? A segunda situação foi quando, certa vez, você acordou no meio da noite, me abraçou apertado e começou a chorar. Eu acordei atordoado e acendi o abajur. Seus olhinhos, tão miúdos, estavam pequeninos me olhando e eu perguntei o que havia acontecido. Tive que perguntar nove vezes para você me mostrar suas unhas. Minha sobrancelha se manteve levantada enquanto eu observava seu esmalte vermelho descascado. Aí você suspirou e disse: "Passei esse esmalte ontem e olha como ele está.", eu sorri enquanto enxugava suas lágrimas e você continuou: "Eu não quero que com nós dois seja assim. Não quero que termine rápido, amor.". Acho que foi a comparação mais maluca que você já fez, mas foi uma das mais bonitas. Eu só disse que não acabaria nunca e apaguei a luz. Sorte a sua que não acabou rápido, azar o meu que acabou antes da eternidade que eu havia planejado para nós.

Não sei qual o propósito dessa carta, talvez seja só minha vontade de desabafar e você é a única que eu confio plenamente. Soa até um pouco irônico. Eu sei que quando você gritou chorando e me pedindo para ir embora, eu só fiz minhas malas em silêncio e fui. Eu sei que posso ter errado ao agir assim. Mas estava me doendo demais ver que você estava mal comigo e o que eu sempre prezei foi a sua felicidade. Antes mesmo de olhar para a minha felicidade, eu queria te ver feliz, Camille. E se iria te fazer feliz que eu fechasse a porta e descesse as escadas para nunca mais voltar, era aquilo que eu faria. Entende? Talvez seja essa a outra razão para que eu esteja te mandando essa carta: quero que você saiba que se você chamar, eu não penso duas vezes para largar esse lugar e voltar. Não sei se existe essa possibilidade de você me querer de volta, mas estou dizendo por precaução. Eu errei muito, assumo meus erros e me exponho nesse papel. Mas não é por remorso não, é por amor. Simples e complicado assim.

Eu te amo, Camille. Sempre vou te amar. E garanto que da próxima vez que eu ver uma estrela cadente, não contarei para ninguém meu pedido. Apesar de que você já deve saber exatamente o que eu pedirei.

Beijo grande,
do seu, sempre seu.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Último Romance.

Fala que eu vou concordar, pede que eu cedo, me entrega os papéis que eu assino, eu selo qualquer trato se você me pedir com jeito, eu faço promessa do dedinho, eu sussurro qualquer bobagem no seu ouvido e até faço qualquer pacto maluco que você queira. Faço o que preciso for para que você acredite em mim. Acredita que eu sou feliz como jamais fui, acredita que eu não vou a lugar algum — não sem você. Ficou decretado desde o primeiro momento que era em você que eu iria morar, com toda a tralha e todas as complicações durante a mudança, com todo o entulho das casas passadas e todas as lágrimas acumuladas no canto do olho, você abriu suas as portas e me aceitou assim. Da mesma forma que eu abri as portas, as janelas, retirei os móveis e deixei você se alojar da forma que bem entendesse dentro de mim. Fique à vontade, amor. A casa é sua e eu também. Deixa eu afundar o rosto no seu pescoço quando eu ficar em silêncio demais, deixa eu afundar minhas unhas na sua nuca, deixa eu te abraçar como se tivesse acontecendo qualquer catástrofe ao nosso redor, deixa eu te beijar sem pretensão de parar, deixa eu te mostrar que nossos medos não são nada perto de nós, deixa eu segurar sua mão com essa força absurda, deixa eu fazer desenhos imaginários com meus dedos nas suas costas, deixa eu te escrever aquelas cartas e vem. Vem me ajudar a tornar realidade qualquer plano que nós fizemos, qualquer ideia louca. Como é que se diz naquela música? "Ter fé e ver coragem no amor", pois então... Eu tenho fé em nós e te garanto, somos muito corajosos.





E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Fragmentos do lembrete para a moça que amava demais.

(...) Se dê um tempo, dê tempo para que os outros sintam falta, não se agarre de maneira tão forte a uma incerteza. Não pinta o cabelo dessa cor, não pinta os lábios desse jeito, não bata com tanta força na porta dos vizinhos de madrugada porque eles não vão querer te atender. Não ligue tanto pra esses números fora de área. Não anda descalço sobre tantas rosas porque são elas que tão belas e tão frágeis te machucam com tamanha força com esses protótipos de espinhos. Não fique longos segundos mergulhada na banheira, não arregale os olhos quando ficar sem ar. Não desça as escadas correndo porque você sempre tropeça no último degrau. Não aperte com tanta verocidade o botão do elevador porque isso não fará com que ele chegue mais rápido até você. Não chore tanto ao telefone, não ande com essa garrafa na mão. Não encoste nesses cigarros do seu bolso. Pare de tremer dessa forma. Eu tentei te avisar desde o início, mas você me ignorou. Junta essas canetas e para de rabiscar os sonhos. Abre essa janela, abre a porta. Agora é você por você mesma. Eu te avisei. Eu disse que amar é morrer um pouco mais que o normal a cada segundo para renascer no segundo seguinte. Eu te avisei.

— Você não avisou.


Não diga que eu não te avisei.
Mas não se esqueça que eu disse que valia a pena.
Porque vale. Morrer acompanhado pode não ser tão ruim.


— Vale a pena.


Quer saber? Ignora tudo que eu disse. Ignora e vai. Ele está te esperando lá embaixo.