quarta-feira, 27 de abril de 2011

Para sua ex-paixão.

G.,

Você foi meu primeiro amor e é pra você que eu quero escrever; quando eu falo primeiro amor, eu quero dizer primeiro relacionamento e meu relacionamento mais duradouro até hoje. Já fazem quatro anos, cara, você tem noção do que são quatro anos? Quatro anos que eu te vi naquela festa e começou a enrolação de pensamentos. Quatro anos que eu estava lendo um livro qualquer na biblioteca da escola, você chegou, sentou ao meu lado, me levou para andar e nasceu um sentimento puro e verdadeiro depois de um beijo.

Eu sentia coisas inexplicáveis por você e talvez, você não tinha e nem tenha noção de tudo aquilo. Se eu tentava falar algo, minhas bochechas rosavam e eu não conseguia dizer nada. Mas cada segundo ao seu lado foi aproveitado e você me fez um bem imenso. Fosse por um beijo, uma mensagem, um telefonema, brincadeiras na webcam, telefonemas na madrugada, idas ao cinema, idas ao bar,  uma brincadeira, um abraço quando eu estava chorando, o roubo das suas blusas de frio só para ficar sentindo aquele seu perfume que me fazia bem.

Você esteve presente em um dos momentos mais difíceis da minha vida que foi a separação dos meus pais e isso é algo que me faz lembrar de você com um sorriso enorme no rosto porque na semana em que eu recebi a notícia e estava chorando muito no colégio, você viu aquilo e me olhou com um olhar reconfortante e por dez minutos me abraçou, me pedindo para não ficar daquele jeito e me dizendo para encontrar você depois da aula para a gente conversar. E nós conversamos e você me arrancou sorrisos - o que ninguém estava conseguindo.

É claro que você me fez sofrer depois daquela manhã de outubro em que você conversou comigo e no final disse um fica-bem e me deu um beijo na testa e ofereceu sua coca-cola. Eu chorei oceanos por pensar nas muitas coisas que nós estaríamos perdendo e nas que eu não poderia te oferecer mais, eu queria te pedir para ficar, mas a Tati Bernardi repetiu por meses para mim "mas-amor-não-se-pede" e eu só chorava em silêncio rezando para aquela dor passar e para que eu parasse de te amar tanto.

Hoje, me vendo bem mais amadurecida, eu vejo o tanto que eu te amei, vejo o tanto que eu sofri, mas sabe o que mais eu vejo? A imensidão de um carinho dentro de mim, uma sensação de eternidade. Nenhum disparar no coração quando eu te reencontro e trocamos algumas poucas palavras, nenhuma mão suando frio quando nós nos dizemos 'oi' ao nos esbarrarmos pelos corredores da faculdade, nada nada. É só uma certeza de te olhar e lembrar do meu primeiro grande amor, sorrir e pensar com bastante força: "eu espero que você esteja feliz". E eu te desejo, sim, do fundo do meu coração, toda a felicidade do mundo,

É isso,
daquela que um dia foi a Bubaix.

Sétima carta de 30.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Para um estranho.

Hello, stranger.

Desculpa esse trocadilho com o filme Closer, mas quando eu ouço a palavra "estranho", essa fala me vem à cabeça. Ei, espera, é pra você mesmo que eu estou escrevendo essa carta, não pensa que eu sou louca ou algo do tipo, eu só quero falar com um estranho. Mas falar o que? É, isso eu também não sei. Eu poderia começar me apresentando e pedir para que você se apresentasse também, mas aí nós não seríamos mais estranhos, não é? E a finalidade dessa carta é enviá-la para um estranho. 

O mais estranho da palavra "estranho" - outro trocadilho horrível, me desculpe - é que você tem uma vida que eu não tenho noção de como é e talvez nunca terei. Não sei como você é fisicamente, nem como você é emocionalmente, não sei de seus amigos e nem de seus familiares, não sei de suas notas escolares, nem do seu emprego ou da sua faculdade, não sei se você já se apaixonou ou se está apaixonado. Não sei nada e mesmo assim, enquanto você lia isso, você provavelmente pensou em tudo isso, não é? Eu também pensei nas minhas coisas. E nossos pensamentos são sobre as mesmas coisas, mas tenho certeza que são pensamentos completamente diferentes. Muitas vezes na vida, nós encontramos pessoas com as quais nós nos identificamos em alguns aspectos, mas nenhuma vida é idêntica à outra e eu não sei se a sua vida se parece em algum aspecto com a minha, mas eu quero te dizer algumas coisas... 

Você, assim como qualquer outro estranho que vá ler essa carta, merece toda a felicidade do mundo. Você tem que se esforçar para ser uma boa pessoa, eu sei, porque em um mundo em que a falsidade e a hipocrisia dominam, temos que ser fortes para suportar isso com um sorriso verdadeiro no rosto, mas saiba que isso não é em vão: essas pessoas de sorriso limpo e puro são as mais admiráveis e eu sei que você é assim e por isso eu te admiro, mesmo sem te conhecer. Todos temos dias ruins e eu não sei se hoje é um dia desses para você, mas quando aquela onda de azar, de estresse, de tristeza ou de raiva passar por você, lembre-se dos mil e um milhões de motivos que você tem para ser feliz. Seja feliz, estranho. Lute pelos seus sonhos, pela sua carreira. Ame de verdade e com todo seu coração! E se sofrer - o que provavelmente vai acontecer - limpe essas lágrimas e vai rir com seus amigos até um novo amor pintar - sempre pinta. 

Somos estranhos, eu sei. E eu não soube direito o que falar, mas se você está lendo isso e está querendo alguém para conversar e quer deixar de ser estranho para mim, bem, pode ter certeza que eu também quero isso, 

Tudo de bom para você, de verdade,
de uma estranha qualquer.


Sexta carta de 30.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para os seus sonhos.

Amados sonhos,

Vocês são tantos que nem compensaria descrever cada um aqui nessa carta, não vou expô-los ao mundo, podem ficar tranquilos. Vocês constituem quase cem por cento do meu ser e isso é inegável. Sempre que possível, eu estou olhando para o horizonte, para o teto do meu quarto ou para qualquer outro ponto fixo, só pensando na minha tão sonhada realização de pelo menos metade de vocês. Sonhos, sonhos...

Muitas pessoas julgam desnecessário essa necessidade que eu tenho de sonhar, juram que eu tenho que olhar com olhos mais realistas para o mundo e parar de acreditar em algumas coisas chamadas de utópicas para eles. Bom, eu olho com olhos realistas para o mundo, mas de que adiantaria eu sofrer tanto por uma realidade sofrida que me cerca? Não adiantaria nada  e por isso vocês, meus amados, existem. Quando eu estou desiludida, eu começo a sonhar e o sofrimento se transforma em esperança. É disso que vocês são feitos: de esperança. 

Eu sei também que não posso me sustentar apenas em vocês, entrar em um mundo onde seremos só nós e me esquecer do mundo real, eu sei que não. Mas eu acredito numa coisa chamada força e em outra chamada fé, que além da esperança é aquilo que os acompanham dentro de mim. Se eu sonho é porque eu tenho em mente que eu tenho capacidade e força o suficiente para ir atrás e tentar realizar. Não vou ficar parada esperando que vocês venham até mim: vocês são um pouco teimosos, eu sei.

Vocês tornam o final do meu dia - aquele momento em que eu deito a cabeça no travesseiro - bem menos pesado, bem menos cansativo porque vocês inundam meus pensamentos com atitudes que eu posso tomar para chegar até vocês. É um ciclo infinito. Eu acredito em vocês e em mim, acredito que se eu pegar na mão da coragem, abraçar a força, seguir a fé e tudo mais, eu acredito que em breve, estaremos juntos rindo dessas pessoas que não conseguem lutar por um sonho.

Eu sou capaz e em breve, eu espero que vocês deixem de ser sonhos e se tornem realidade!

Com amor,
Paula

ps: eu sei que, infelizmente, alguns de vocês vão morrer e alguns de vocês vão sumir de vista e isso vai me desanimar um pouco... mas nunca me desanimará totalmente, podem ficar tranquilos.

Lá se foi a quinta carta das 30 que eu publicarei.

domingo, 24 de abril de 2011

Para o seu irmão ou irmã.

Tosca,

Nessa foto está você, me segurando no momento em que eu cheguei do hospital. Não dúvido nada que você tenha ficado cheia de ciúmes por não ser mais a filha única, mas eu também não tenho dúvidas que desde esse momento, você me amou e mesmo nem abrindo os olhos direito nesse momento, eu já te amei também. Tem uma frase que muitas pessoas dizem que fala que nossos irmãos são nossa única fonte do passado e aqueles que nunca nos deixarão no futuro e isso é a mais pura verdade. Pra escrever sua carta, eu não posso começar falando: "lembra quando a gente se conheceu?", porque nós não lembramos, porque eu te conheci quando eu nasci e você me conheceu com seus meros três aninhos.

Desde sempre, somos unidas. Unha e carne. Claro que tem aqueles momentos em que a unha quebra ou que sai uma lasquinha da carne e aí sangra, mas cicatriza. Ainda crianças, nós pintávamos juntas as paredes de casa, brigávamos para ver quem ia dormir na cama com a minha mãe, dedurávamos a outra, ficávamos de castigo e mesmo assim conversávamos pela janela do quarto de cada uma, nos batíamos, mordíamos, disputávamos quem tinha mais moedinhas no cofrinho. Pé de guerra seguido por tempos de paz. Já mais velhas, continuamos a brigar de vez em quando, compartilhamos segredos, rimos, quando estamos sozinhas em casa damos show para a cidade, viramos a noite no sofá, brigamos por causa da música alta, ouvimos música alta juntas. 

Eu só quero te falar que aquela nossa última briga, foi a mais feia dos últimos tempos. E eu estava com raiva e disse que a parte "amigas" do fato de sermos irmãs tinha sumido, mas foi da boca pra fora. Ultimamente, você não me conta tantos segredos como antes e eu comecei a fazer o mesmo, mas eu sei que é só uma fase. Eu só preciso que você se lembre que você é a pessoa que eu mais amo nesse mundo e eu não posso deixar de ressaltar que eu daria minha vida por você. Desculpa não usar as palavras direito com você, mas quando eu mais preciso delas... Elas somem. E nunca se esqueça: eles não te conhecem como eu. Isso é mais do que eterno, vai além da vida. 

Eu te amo demais,

sua Honey Bee (hahaha)

 Quarta carta de trinta.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Para os seus pais.

Mãe, Pai. Heroína e Herói,

Não somos aquela família perfeita que qualquer pessoa desejaria ter uma igual. Até porque, pai, você mora do outro lado da cidade há quatro anos. Eu tinha apenas 13 anos de idade e começou a surgir o assunto de que iríamos nos mudar, a empolgação extrapolava pelo meu peito até que no dia em que o último móvel entrou pela porta desse apartamento e eu já estava exausta demais, bem, nesse dia eu ouvi uma das notícias que mais me doeu: vocês iriam se separar. Eu não entendia, vocês nem brigavam tanto assim, qual era o problema? Mas eu parei de fazer tantas perguntas porque eu não me importava com as respostas, nada mais importava. Veio, então, uma das piores fases da minha vida... Tudo que eu fazia era chorar porque eu não queria que minha família se desmoronasse daquele jeito... Mas eu era apenas muito nova para entender que vocês estavam se separando e isso não tinha nada a ver comigo. Vocês continuariam sendo meus pais e nada mudaria isso.

Eu sei que na maioria vezes eu não demonstro, mas saibam que aquele abraço que eu dou em vocês é um dos movimentos mais sinceros e cheios de amor que eu faço. Quando é necessário, eu tenho que cuidar de vocês também e saibam que isso não é nenhum sacrifício, não é nem metade de tudo que vocês fazem ou ainda vão fazer por mim. Nós temos nossas diferenças e daí saem as brigas e isso me machuca, mas não demora muito para fazermos as pazes. Vocês sempre me apoiam antes de qualquer pessoa: vocês me apoiaram sem se importar se mais alguém me apoiaria e se vocês não achavam certo, vocês apenas me mostravam que não era aquele o caminho que eu devia seguir.

Eu adoro tudo em vocês e eu adoro o fato de vocês fazerem tudo que está ao alcance de vocês e meu peito se enche de amor quando vocês tentam fazer até o que está fora de alcance e muitas vezes eu penso que eu não mereço tudo isso e mesmo não sendo uma família perfeita, vocês são os melhores pais do mundo. Muitas vezes, eu sinto raiva por alguns motivos, mas nada disso diminui o meu amor que só sabe crescer. Eu peço desculpas por alguns deslizes ou por alguns grandes tombos,  mas tenho que dizer um 'muito obrigada' por estarem ao redor para me segurarem. A dor de vocês sempre será minha também, o sorriso de vocês sempre será meu e vice-versa, eu sei.

Eu daria minha vida por vocês, meus verdadeiros amores,

Sua filha.

Essa é a terceira carta de 30.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Para a sua paixão.

Nego,

Agora mesmo, chegou um momento em que meu pensamento voou completamente e eu fiquei olhando a cidade pela janela e comecei a escrever e não sei como, mas as palavras estão saindo automaticamente. Eu sei que não chegarei a enviar essa carta, mas eu estou escrevendo e imaginando como você estaria reagindo a cada palavra lida - um sorriso, uma careta, uma risada leve, um olhar surpreso: eu te conheço.

Eu só estou te escrevendo porque eu tenho que escrever e também porque começou a tocar uma música famosa que diz "eu levo a sério, mas você disfarça" e nossa, você tem noção de como essa música se encaixa pra nossa situação? Aquela nossa última e única conversa séria a respeito desse assunto, deixou tanta coisa presa no ar, tanta coisa por dizer. Não sei se é porque quem sente tem uma necessidade de falar, mas as palavras sempre somem no momento certo, sabe? Mas eu fico relembrando e tudo que eu consigo pensar é que eu deixei passar milhões de detalhes importantes e você, provavelmente, não me levou a sério. Então, por favor, leve a sério essa carta - sem disfarçar.

A realidade é que ao contrário do que você pensou, eu não te falei que gosto de você por culpa de um ataque de carência. Se fosse carência seria tão mais fácil ter dito isso para aquele menino que eu vejo todos os dias, não acha? Eu disse que gosto de você, primeiramente, para não te assustar porque a verdade é que eu sou apaixonada por você. Eu disse que gosto de você porque eu estava guardando isso há tempos e eu tinha cansado de guardar só para mim. Será que você nunca reparou nas mensagens, no meu sorriso, no meu nervosismo ao telefone, no meu ciúme disfarçado com brincadeiras? Impossível não ter reparado.

E eu quero te falar também que a sua falta de posicionamento, quase me matou aquele dia. Eu não quero que você tenha medo de me machucar dizendo que somos apenas bons amigos. Eu quero a sua sinceridade, eu preciso dela. Eu preciso saber se eu tenho que esvaziar meu coração para manter só nossa amizade.  Mas eu quero te falar que as pequenas coisas que você já fez, alimentaram mais ainda esse amor. Se eu comecei a gostar de você, a culpa é minha, mas se eu continuo gostando de você - cada dia mais e mais -, a culpa é um pouco sua também.

Olha, você tá vendo? Eu escrevi tudo isso, reli e estou achando que não disse nada de importante. E eu só consigo escrever sobre isso e essa sensação de que eu tenho-um-amor-não-resolvido, ou como diriam os gringos: "unfinished business". Vai ser sempre assim? Eu espero que um dia nós possamos conversar e que eu diga o que precisa ser dito e que você diga o que precisa ser dito e que a gente se acerte - grandes amigos ou amores, dispenso a opção em que você teria que sair da minha vida. Não sei como finalizar. Amo você. Não vou te fazer promessas e nem te cobrar nada... É isso.

Com carinho e com (muito) amor,

Neguinha.

Segunda carta de trinta.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Para as melhores amigas.


Oie, queridas melhores amigas. 

Não vou citar seus nomes, isso será desnecessário. E não é preciso repetir para todos que vocês são minhas melhores amigas, vocês sabem e isso que importa. Não falo que vocês são minhas melhores amigas com a intenção de desmerecer os outros amigos, de jeito nenhum e a questão não é a intensidade do sentimento e sim o conjunto de tudo: a compatibilidade,  a confiança extrema e o carinho inexplicável.

Eu cresci ao lado de uma, mas me afastei dela por alguns anos na minha vida e hoje em dia não consigo entender como eu pude perder tanto tempo e ter sido tão burra. Eu conheci uma aos 10 anos e somos nós desde então - quando todos se afastavam e na decisão de quem ia ficar em cada sala: lá estávamos eu e ela. Eu conheci outra aos 12 anos e com ela eu tenho uma tatuagem igual - o marco da eternidade. E a outra eu conheci aos 13 anos, mas só me aproximei aos 14 e tive certeza de que não teria como sem ela aos 15. Vocês quatro, sim, tem o meu amor mais sincero.

Os tempos mudaram e a verdade é que cada uma está em um canto. Apesar de que não éramos todas de um grupo só, era reconfortante entrar naquela sala do colegial e ver cada uma sentada em seu devido lugar. E hoje em dia é tão complicado para ver vocês com frequência - só finais de semana e olha lá. A rotina nos grita, mas nem por isso as coisas mudaram: mensagens no celular, ligações e o mundo virtual está aí pra isso, não é mesmo?

Só que eu sinto tanto a falta de vocês em todas as horas das minhas manhãs, sinto falta de rir tanto de alguma coisa com vocês e de alguma forma, conseguir fazer o professor rir também - ou nos dar uma bronca; sinto falta de compartilhar segredos olhando nos olhos, de dar bronca olhando nos olhos, de receber broncas olhando nos olhos, de abraçar e depois olhar nos olhos. Nossa, é muita falta. Mas eu não estou escrevendo isso para lamentar a ausência física. Eu estou aqui para agradecer a presença em coração e agradecer por essa prova de amizade: mesmo aparentemente longe, nada mudou. E eu quero pedir para que nunca mude. Eu sei que cada uma tem um caminho para seguir, mas isso não significa que vocês não podem caminhar perto de mim - nossos caminhos podem se manter um ao lado do outro se nós quisermos. Eu quero.

Meu amor por vocês é gigantesco e eu estou segurando a mão de vocês a todo momento, tenham certeza disso. Até o fim.

Com carinho,

Paula.

Serão 30 cartas, cada uma para algo/alguém específico. 
Achei isso há muito tempo e só agora fui criar coragem para começar.
Todas as cartas serão postadas aqui.

sábado, 16 de abril de 2011

A decisão indefinida.

Era sexta-feira, meu ânimo para sair era zero e meus pensamentos estavam em máxima velocidade. Falar ou não falar, falar ou não falar, fiquei me perguntando isso a tarde toda. Em meio a pessoas cansadas, suadas e com olhares irritados andando na rua pelo sol do meio dia, eu pensava nisso. E a decisão foi tomada quando eu vi de um lado da calçada um casal andando de mãos dadas e do outro uma menina chorando disfarçadamente. Ficou decidido: vou falar. Era fato que meu destino seria um desses dois lados e por isso eu tinha que tentar.

Montei um diálogo na minha cabeça e o diálogo imaginário tomava duas direções também. Pura invenção, puro delírio - nada seria desse jeito. Eu falava que gostava de você e você dizia que também gostava de mim. Eu falava que gostava de você e você dizia que não era isso que você sentia. Ou um, ou outro, não é? Na verdade, não. 

Oito da noite, nove, dez e nada de você aparecer. Dez e cinquenta e alguns quebrados, você apareceu. Meu coração apertou e eu quis correr para debaixo das minhas cobertas e ficar lá até o dia clarear e o monstro da sua presença ir embora. Mas eu não podia. Eu tinha que ser forte e sussurrava pra mim mesma: dois anos já, pare com tanta bobagem e enfrente os seus problemas. Enchi meu peito com ar e segurei firme a mão da minha mais recente amiga: a coragem.

Tentei seguir o script, mas eu estava nervosa, não conseguia digitar as palavras e ficava imaginando seu olhar surpreso. "Eu gosto bastante, bastante mesmo de você". Eu disse no final do meu discurso - era um discurso sem promessas, sem cobranças e sem uma exposição intensa de sentimentos porque eu não queria te assustar. Você não entendeu bem e achou que eu estava me referindo à nossa amizade... Coitado, até nessa hora você me fez rir. E eu repeti e acrescentei que não era só-como-amigo. E você se surpreendeu. Começou então a bagunça das palavras, as contradições: "eu gosto muito de você; eu achei que não tinha nada; não sei o que dizer; você me pegou de surpresa; por você ter falado você ficou ainda mais importante pra mim." e etc. E veio também a raiva imensa que você me fez sentir, você ousou perguntar se eu estava carente e eu quis atravessar a tela desse computador só para te encher de tapas. Eu não teria falado isso para você se não fosse verdadeiro, seu idiota, eu poderia falar para qualquer menino que mora aqui perto de mim, se liga, alô! Eu disse essas palavras de maneira mais educada e você me soltou um: "eu sei que o nosso gostar é verdadeiro". Ah! O nosso gostar? E do nada você me mandou coraçõezinhos e você falou isso e aquilo e eu chorando oceanos do lado de cá. 

Eu chorei porque o roteiro foi rasgado e enquanto os pedacinhos de papéis voavam pra sei-lá-onde, você mudou o rumo da história para rumo nenhum. Eu  queria que você se posicionasse do lado bom - de preferência - ou do lado ruim da situação.  Mas foi impossível te entender. A minha parte eu fiz, eu abri meu coração pra você e... Chega! Já foi um custo tremendo fazer essa parte, agora se em algum momento você quiser conversar abertamente sobre isso, nós conversamos. 

Eu não estou do lado da menina que estava chorando e nem estou com você do outro lado junto com aquele casal. Eu estou sozinha no meio da rua. Com o coração na mão, as lágrimas caindo e uma esperança de que você me empurre pra um dos lados da calçada antes que o semáforo se abra.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Querida Bobbie,

(Pequena história baseada na música Dear Bobbie - Yellowcard)

Querida Bobbie,

Eu acho que deveria começar essa história com um “Era uma vez há muito tempo atrás...”, mas talvez nem isso fosse suficiente para contar para os outros e relembrar essa história com você, Bobbie. Eu estou aqui nos meus 74 anos e estou parecendo um garoto de 18, talvez eu tenha parado no tempo desde o dia em que eu te conheci e te chamei sem jeito para dançar.

Eu me lembro bem que havia acabado de entrar no salão e tinha te visto sentada com uma saia enfeitada, um sapato preto e branco, um pequeno laço em seus cabelos. Eu te achei a mulher mais linda daquele lugar. Quer dizer, aqui entre nós: eu só consegui olhar para você naquele lugar. Depois de algumas horas com meus amigos, eu resolvi ajeitar meu paletó e fui até você. Passei as mãos pelos meus cabelos louros com gel e estiquei uma mão em sua direção.

- Quer dançar? – Eu perguntei completamente intimidado pelo seu sorriso que não saíra de seus lábios em momento algum. Você fez que sim com a cabeça e eu me lembro bem que nossa sincronia foi perfeita naquela música lenta e naquela outra rápida e em todas as outras que dançamos juntos. Enquanto minha mão se fixava contra a sua cintura, parecia que você flutuava e meu pai havia me ensinado desde menino que era assim que a gente sabia se estávamos dançando bem ou não. 

Eu era um menino de 18 anos e você era uma garota de 17, nós dançamos perfeitamente naquela noite e eu sinto uma leve tristeza de não sermos os melhores dançarinos da pista dos dias de hoje - aqueles jovens tomaram nosso lugar. Como o tempo passa, não?

O ano era 1945, depois daquele dia eu quis te ter sempre por perto. Eu nunca havia sentido aquela sensação estranha e até hoje eu digo que nasci no dia em que eu te conheci. Eu abri meus olhos para o mundo e meu mundo passou a ser seu também. 

Nosso namoro começou e um dia em especial me marcou bastante, parece que foi ontem que nós estávamos na varanda da sua enorme casa depois do jantar e após um beijo, eu sussurrei para você:

- Se você estiver comigo quando cada dia começar, eu só me apaixonarei mais e mais por você. - Foi uma promessa, Bobbie, eu tinha certeza que você seria a mulher da minha vida, que eu subiria ao altar com você e que eu estaria contigo – e ainda te amando - até o último dia da minha vida.

Entre idas e vindas o nosso namoro durou quatro anos. Em um dia você simplesmente pegou seu carro, viajou para a casa de uma tia sua e ficou um mês sem me dar sinal de vida. Eu também não queria saber de você, tudo por uma das centenas brigas. Não conseguiria contar nos dedos o tanto que brigamos, mas a melhor parte disso tudo era que quando fazíamos as pazes, só tínhamos mais certeza que precisávamos um do outro. Mas como eu estava dizendo, entre idas e vindas o nosso namoro durou quatro anos, porque em 1949 nós nos casamos. 

Eu tinha comprado um conversível amarelo e te levei para dar uma volta, quando chegamos naquela pequena montanha eu te fiz o pedido. Você sorriu com lágrimas escorrendo pelo seu rosto de porcelana e sussurrou:

- Achei que você nunca pediria. – Eu coloquei o anel em seu dedo e você me deu o melhor de todos os beijos. Eu tinha 22 anos, era jovem e você também. Mas quem poderia decifrar a melhor idade para o amor nascer? Ninguém. 

Naquela noite nós ficamos dando volta por todos os lugares da pequena cidade em que morávamos até a noite virar. Seu pai quis me matar, mas quando você mostrou o anel de noivado ele me deu um abraço e disse que eu era bem-vindo naquela família. Fui embora cantando naquele dia, sabia, Bobbie?


Nós mandamos construir uma casa para nós, exatamente como nós queríamos: branca com janelas de vidro. É engraçado que hoje essa casa já tenha quase 52 anos, ou seja, quase 20 mil dias de existência – não estou sendo exato nas contas, eu nunca fui bom com isso, você sabe. Tantas memórias que eu guardei de momentos nessa casa: desde o dia em que você descobriu que estava grávida do nosso primeiro filho, Jamie – depois dele vieram mais quatro; até o dia que você chorou de alegria porque eu tinha conseguido um emprego ótimo. 

O tempo passou e nós mudamos junto com ele. Seus cabelos são completamente grisalhos assim como os meus, o tempo foi nosso melhor companheiro para provar ao mundo que somos mais fortes que todo o resto. Eu sei que nós estamos diferentes, não somos jovens e andamos devagar, mas eu te amo do mesmo jeito e você continua sendo a mulher mais linda do mundo. Já temos netos que correm pela casa e eu sinto que o fim de tudo isso se aproxima, mas eu não me importo... Com você, eu aprendi o significado da palavra amor. O que fizemos aqui na Terra ficará registrado aos olhos de Deus e aos olhos de quem nos conheceu, mas também passará de geração para geração. Nada foi em vão. E não tenho medo de dizer que o que me mantém feliz, enquanto eu me balanço nessa cadeira ao seu lado, observando o pôr-do-sol e apertando de leve suas mãos enrugadas, é a certeza que quando eu for embora, quando eu fechar meus olhos definitivamente, eu ainda estarei te amando. Da mesma maneira que eu te amei desde o primeiro dia que eu te vi com aquele laço na cabeça e eu tenho certeza que nas próximas vidas, este amor prevalecerá.

Com amor,
Do seu eterno, Ben.  

quinta-feira, 7 de abril de 2011

#prayfortheworld

Tragédias e tragédias, sem um dia sequer para que possamos parar para respirar e pensar que o mundo é perfeito. O mundo está longe da perfeição e o sensacionalismo da imprensa só nos dá cada dia mais essa certeza. Desastres, assassinatos, guerras, lutas, brigas...

Quando me dizem que o fim do mundo está perto e começam com todas aquelas piadas envolvendo dia 21 de dezembro de 2012, eu sinto uma tristeza imensa de ver cada dia mais que esse fim pode estar mais próximo do que imaginamos... Não estou dizendo que profecias serão cumpridas e que os Maias estavam certos. Só estou dizendo que aos pouquinhos os seres humanos estão se auto-destruindo, destruindo seu único lar.

Todos os dias eu agradeço por mais um dia e todos os dias eu torço para que os próximos dias sejam melhores - para mim e para o mundo. Não peço a utópica perfeição, só peço uma melhora. Uma mínima melhora já é o suficiente. Um pouco mais de amor ao próximo, um pouco mais de amor à natureza, um pouco mais de amor ao mundo, um pouco mais de paz... Só um pouco.

domingo, 3 de abril de 2011

A cura.

Queria entender a fórmula necessária para mudar tudo isso, para virar a mesa ou virar o jogo, não importa a metáfora, eu só queria mudar toda essa situação, achar uma cura para esse vício-silencioso ou arrumar uma maneira de não deixar que esse vício continue essa forma - não dá mais.

Eu fico me perguntando se é necessário pegar um avião e mudar de país ou pegar um avião e ir até aí. Eu não quero ter que fugir mais. Não quero ter que mentir pra você - mesmo que essa mentira seja para o bem-estar do meu coração. Não quero ter que achar que a única cura é ficar calada até passar, sabe por quê? Porque nunca passa, Senhor, já são quase dois anos tremendo o beiço e enxugando o olho rápido ao falar de você para uma amiga e molhando meu travesseiro com essa água salgada antes de dormir. É só meu peito gritando que não tem essa de bem-estar e quer explodir - ele grita há dois anos e eu só sei ignorá-lo. 

Essa história tem dois lados, mas você não vê do lado de lá do vidro. Eu  estou de um lado e você do outro, você só sabe que eu estou ali, mas não me escuta gritando para você. Você acha que pra mim está tudo bem sermos amigos de longe, você me ligar e desligar antes que eu atenda, você acha que está tudo bem você ser lindo desse tanto comigo... Mas não está tudo bem, eu queria apenas que você entrasse nessa. Mas você não pode adivinhar nada - ou será que você já adivinhou?

O telefone fica me olhando e me pedindo para acabar com meus créditos só para ouvir sua voz um pouco, meu coração pede para que eu aproveite a deixa do telefone e sussurre algum te-amo-sabia, minha cabeça dói de pensar na impossibilidade desse amor e eu fico tentando entender porque tudo começou... Sabe, eu sei que tudo pode dar certo ou dar errado, são os únicos lados dessa moeda, mas essa certeza de que o mundo não está conspirando para nós, não ajuda e é isso o que me segura firmemente pelos pulsos pra não me deixar correr até aí e jogar em você tudo que está engasgado. 

O tempo não me ajudou, muito menos a distância - começou com ela, na verdade -, não quero parecer a covarde da história, mas não é fácil. Fico procurando a cura nas letras de música e fico procurando a cura no silêncio, mas eles não servem. Começo a procurar a cura em quem não tem nada a  me acrescentar na vida e já sinto nojo e paro antes de começar direito. Já procurei a cura numa conversa em particular com meu coração, mas ele não me atendeu. Procurei a cura nos livros e nas cartas antigas, mas nenhum me curou e nenhum me explicou o que fazer. Procurei a cura em todos os mínimos cantos, mas de nada adiantou. Aí eu olhei para você e vi que você é quem me cura dessa dor que você causa sem saber. Queria entender o sentido disso tudo, queria saber o que fazer com tudo isso.