Todos conhecem a Medusa: cabelos que na realidade são cobras e olhar capaz de petrificar qualquer um que fixe seus olhos nos dela. Todos conhecem a Medusa, mas apenas eu conheci o Meduso. O rapaz que não possui cobras no lugar dos fios de cabelo, aliás, seus cabelos são bem brilhantes e negros — como carvão. Nada de sobrenatural acontece com quem lhe olha diretamente nos olhos, ninguém vira pedra, o feitiço dele vai além, vai fundo. Se você o ver por aí, saiba que ele parece uma pessoa qualquer e é aí que a maldição se inicia... Então, camarada, não pense que ele é qualquer um porque ele não é. Ele é o Meduso: medonho e absurdamente irresistível.
A primeira vez que eu o vi foi num dia chuvoso em meados de algum mês que não me lembro agora: acho que foi junho, mas pode ter sido setembro... Eu havia saído de casa sem guarda-chuvas porque o Sol estava lindo no céu. Estava indo ao shopping ou a casa de uma amiga, não me lembro bem também, só sei que a chuva começou a cair quando eu estava na metade do caminho. Juro que parecia que alguém havia pedido no ouvido de São Pedro pra derramar o céu sobre a minha cabeça — onde já se viu um Sol tão lindo virar água em quinze minutos?
Tenho medo de contar essa parte da história porque logo depois que a chuva começou a cair, na esquina oposta do quarteirão em que eu me encontrava, lá estava ele com guarda-chuvas e óculos escuros. Eu abaixei os olhos porque me senti intimidada, mas eu sentia que ele estava se aproximando... Ele vindo e eu indo, eu cabisbaixa e ele com passos firmes, o campo eletromagnético dele invadindo o meu e aí aconteceu: nossos ombros se esbarraram com tamanha força que eu cambaleei e teria caído se ele não tivesse me segurado. Enquanto ele sorria pedindo desculpas, eu me mantinha hipnotizada com as mãos dele tocando o meu ombro. Ele tirou os óculos e se esforçou para que eu olhasse diretamente na sua pupila, na sua íris, nos seus cílios, na sua retina... E eu olhei. Olhei e senti o mundo caindo ao meu redor. A chuva sumiu, o chão sumiu, ele sumiu, eu sumi.
Comecei a vê-lo, então, todos os dias e em todos os lugares. Parecia alguma assombração que me perseguia. Em todas as vezes, ele se aproximava sorrindo, me dizendo um simples "Oi" enquanto retirava os óculos. Aqueles malditos olhos me provocavam as mais diferentes reações: a felicidade virava tristeza, a tristeza virava alegria, a calmaria virava tempestade, a agonia virava paz. Foi assim por meses, eu me sentia louca, mas me sentia amedrontada para dizer a alguém que um simples estranho me provocava aquelas mudanças de humor absurdas. Meses depois, já não éramos estranhos e eu tinha necessidade de vê-lo, de tocá-lo, de abraçá-lo, de entendê-lo, de desvendá-lo. Tinha necessidade porque ele se tornara o alvo do meu afeto e da minha devoção. E eu era como uma rainha ao seu lado. Planos e promessas sussurrados completavam os beijos dados no escuro do cinema. Mas eu mal sabia que isso fazia parte do feitiço, do sonho — ou seria pesadelo? Não lembro bem quando, não lembro bem onde — acho que ele teve o poder de mexer com as minhas memórias também —, mas um dia ele simplesmente sumiu. Evaporou. Não deixou carta, não telefonou, não mandou recado pelo vizinho, nem por pombo correio: nada. Nesse dia, senti um tremilique esquisito e comecei a chorar enquanto sentia uma dor no peito.
Eu ainda acho que preferiria virar, literalmente, uma pedra ao olhar nos olhos da Medusa do que ter vivido uma história ao lado do Meduso e ter tido, no final das contas, meu peito petrificado. Tome cuidado se o ver na rua, não deixe que ele encoste em você e nem acredite nas promessas do amanhã. Eu acreditei, eu o olhei nos olhos, eu me deixei ser tocada e estou aqui: parada, sem ninguém, tentando achar uma forma de quebrar essa maldição. Não é atoa que seu nome começa com M de medo e termina com O de obsessão.
A primeira vez que eu o vi foi num dia chuvoso em meados de algum mês que não me lembro agora: acho que foi junho, mas pode ter sido setembro... Eu havia saído de casa sem guarda-chuvas porque o Sol estava lindo no céu. Estava indo ao shopping ou a casa de uma amiga, não me lembro bem também, só sei que a chuva começou a cair quando eu estava na metade do caminho. Juro que parecia que alguém havia pedido no ouvido de São Pedro pra derramar o céu sobre a minha cabeça — onde já se viu um Sol tão lindo virar água em quinze minutos?
Tenho medo de contar essa parte da história porque logo depois que a chuva começou a cair, na esquina oposta do quarteirão em que eu me encontrava, lá estava ele com guarda-chuvas e óculos escuros. Eu abaixei os olhos porque me senti intimidada, mas eu sentia que ele estava se aproximando... Ele vindo e eu indo, eu cabisbaixa e ele com passos firmes, o campo eletromagnético dele invadindo o meu e aí aconteceu: nossos ombros se esbarraram com tamanha força que eu cambaleei e teria caído se ele não tivesse me segurado. Enquanto ele sorria pedindo desculpas, eu me mantinha hipnotizada com as mãos dele tocando o meu ombro. Ele tirou os óculos e se esforçou para que eu olhasse diretamente na sua pupila, na sua íris, nos seus cílios, na sua retina... E eu olhei. Olhei e senti o mundo caindo ao meu redor. A chuva sumiu, o chão sumiu, ele sumiu, eu sumi.
Comecei a vê-lo, então, todos os dias e em todos os lugares. Parecia alguma assombração que me perseguia. Em todas as vezes, ele se aproximava sorrindo, me dizendo um simples "Oi" enquanto retirava os óculos. Aqueles malditos olhos me provocavam as mais diferentes reações: a felicidade virava tristeza, a tristeza virava alegria, a calmaria virava tempestade, a agonia virava paz. Foi assim por meses, eu me sentia louca, mas me sentia amedrontada para dizer a alguém que um simples estranho me provocava aquelas mudanças de humor absurdas. Meses depois, já não éramos estranhos e eu tinha necessidade de vê-lo, de tocá-lo, de abraçá-lo, de entendê-lo, de desvendá-lo. Tinha necessidade porque ele se tornara o alvo do meu afeto e da minha devoção. E eu era como uma rainha ao seu lado. Planos e promessas sussurrados completavam os beijos dados no escuro do cinema. Mas eu mal sabia que isso fazia parte do feitiço, do sonho — ou seria pesadelo? Não lembro bem quando, não lembro bem onde — acho que ele teve o poder de mexer com as minhas memórias também —, mas um dia ele simplesmente sumiu. Evaporou. Não deixou carta, não telefonou, não mandou recado pelo vizinho, nem por pombo correio: nada. Nesse dia, senti um tremilique esquisito e comecei a chorar enquanto sentia uma dor no peito.
Eu ainda acho que preferiria virar, literalmente, uma pedra ao olhar nos olhos da Medusa do que ter vivido uma história ao lado do Meduso e ter tido, no final das contas, meu peito petrificado. Tome cuidado se o ver na rua, não deixe que ele encoste em você e nem acredite nas promessas do amanhã. Eu acreditei, eu o olhei nos olhos, eu me deixei ser tocada e estou aqui: parada, sem ninguém, tentando achar uma forma de quebrar essa maldição. Não é atoa que seu nome começa com M de medo e termina com O de obsessão.
3 comentários:
Promessas não me convencem, sorrisos não me cativam, aprender a se proteger de tudo e todos não é algo tão ruim, concorda? Mas ainda sim, prefiro errar do que não fazer nada.
Gosto do seu blog, de verdade. Estou sempre por aqui. Beijos.
http://www.naoanonima.blogspot.com
Nossa que criatividade no texto, viajei com ele. Acho que nós mulheres um dia ou outro iremos encontrar ele Meduso, que é capaz de nos paralisar com um olhar, nos deixar enfeitiçada. Esse é o meu medo.
Adorei aqui e por isso irei seguir, Beijão!
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