sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Longe.

Eu ainda estou na esquina da sua casa. Encostada no muro, segurando um guarda-chuva enquanto você entra para buscar sua mochila.
Eu ainda estou deitada contigo, chorando absurdamente enquanto rolam os créditos do meu filme preferido.
Eu ainda estou sentada naquele banco que disseram que havia um cara morto lá.
Eu ainda estou atravessando a rua cantando Elis Regina, vendo você me reprimindo com o olhar e me chamando de estranha.
Eu ainda estou te puxando para me beijar na chuva dentro do cemitério.
Eu ainda estou falando que seu gosto é o melhor do mundo.
Eu ainda estou dizendo que há um cabelo entre nós.
Eu ainda estou mandando minha testa contra a sua com toda a força depois de me assustar com um trovão.
Eu ainda estou fazendo palavras cruzadas deitada naquela cama.
Eu ainda estou naquela cama.
Com toda a bagunça, as roupas jogadas, o lençol desajeitado.
Eu ainda estou sendo desastrada contigo, te derrubando na rua.
Eu ainda estou tropeçando com meu chinelo por todo o canto.
Eu ainda estou falando sem pausas.
Eu ainda estou mordendo um copo de plástico, fazendo e te dando um chapéuzinho da felicidade.
Eu ainda estou beijando seu olho quando você chora.
Eu ainda estou rindo absurdamente enquanto eu reflito sobre a formiga na nossa frente.
Eu ainda estou naquele cinema.
Eu ainda estou naquela sacada.
Eu ainda estou pegando na sua mão.
Eu ainda estou.
Eu ainda estou aí.
Eu ainda não vim embora.
E não quero vir.

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