sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tradução.

Errei ao supor. Eu supunha que te conhecia por inteiro, supunha me conhecer inteiramente e supunha conhecer a imensidão desse sentimento. Errei de maneira inigualável quando eu sussurrei no meio da noite, depois de uma dose ou duas de bebida, que eu sabia onde isso iria parar. Eu nunca soube, amor. Nunca soube e nem sei ainda. Eu não te conheço por inteiro, mas cada dia que te descubro só aumenta a vontade de afundar meus dedos no seu cabelo. Eu não me conheço inteiramente e você também vê só a ponta desse iceberg que sou, mas vou me descobrindo aos poucos e vou me mostrando com calma para não te assustar, não quero tirar de você a vontade de me aninhar nos seus braços. E onde já se viu? Eu deduzia que em tal dia em tal hora, o sentimento pararia de crescer e que nos manteríamos assim, plenos e amenos. Somos qualquer coisa, menos amenos. Nunca preciso fazer nada e ainda assim, sinto meu amor crescendo todos os dias. Não há suposição válida para nós dois. Nós só somos.

Estava cansada de tantas máscaras, não haviam mais opções de disfarce, mas você veio me salvar. Joguei todas as máscaras debaixo da cama, varri toda a poeira do quarto e abri a janela para o vento trazer seu cheiro. E seu cheiro chegou, invadiu a casa toda e pareço um pouco desnorteada enquanto fico andando do quarto até a cozinha com os olhos fechados e um sorriso no rosto. Vou até a janela com passos tímidos e te chamo baixinho enquanto te procuro pelas nuvens ou entre os carros que correm lá embaixo. O vizinho do prédio da frente já nem sabe direito se eu tenho uma espécie de amigo imaginário ou se eu gosto de falar sozinha, mas ele nem imagina que não é nem um e nem outro. Eu gosto de conversar com você desse jeito, mesmo em silêncio e mesmo sem você me ouvir, eu estou a todo momento te sussurrando meus segredos, meus anseios e meu amor — que já não cabe em mim mais.

No meio das noites, às vezes tão quentes e às vezes tão frias, eu não me importo de acordar com a visão embaçada e fechar os olhos logo em seguida só para ouvir sua voz. Não me importo de chorar baixinho quando eu percebo que amor maior não há. Não me importo de suspirar em meio a silêncios e te falar, meio estremecida, que eu nunca amei assim. Saímos pelas noites separados, mas os dois sabem muito bem onde querem estar no final. Eu sou apaixonada por você e você é apaixonado por mim, mas essa não é a parte mais mágica. A magia toda se envolve ao redor do fato de que o amor está apaixonado por nós: encontrou seu lugar e agora tem certo conforto por estar, finalmente, alojado em nós dois. Se o amor se traduzisse em gestos, não tenho dúvidas que seria qualquer um que envolvesse suas mãos nas minhas, sua boca na minha e seu corpo no meu. Se o amor se traduzisse em algum gosto, não tenho dúvidas que seria o gosto da sua saliva misturada com a minha. E se o amor se traduzisse em palavras, não tenho dúvidas que seriam apenas duas: meu nome grudado no seu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Será que vale a pena amar tanto assim,Paula?

Anônimo disse...

e a propósito...belíssimo texto,:)

Dani disse...

Incrível... Chega a dar vontade de amar também. Beijões!