segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vôo sem escalas partindo em cinco minutos. Última chamada.

Querido, hoje eu coloquei suas últimas peças de roupas restantes dentro de uma mala bem pequenininha, deixei com o porteiro e dei seu número a ele. Falei bem assim: "Liga e pede pra ele buscar", só. Chorei igual criança enquanto guardava sua camiseta dos "Bananas de Pijamas" e ainda estou com medo de remexer nos seus objetos jogados pelo banheiro porque tenho certeza que há milhares de fantasmas seus entre a sua escova de dente verde-musgo e aquele seu protetor bucal nojento e babado que você usava para fingir que lutava boxe pra depoir vir me fazendo cócegas e me pedir beijo. Como que eu tinha coragem de te beijar com aquele pedaço de gosma na sua boca?

Por que você me largou, baby? Eu sei que pareço uma cantora de músicas desesperadas falando assim. Cantora eu nunca fui, você sabe bem. Mas ah, o desespero já fez morada dentro de mim e tem sido muito frequente todos os dias. Voltei a fumar. Menos pelo vício e mais porque você sempre odiou que eu fumasse. Só que enquanto você ainda estava comigo, isso nem era problema pra nós porque eu largava meus cigarros e abusava de um vício muito melhor que era o vício que eu tinha por você, pelo seu cheiro de natureza depois da chuva e outros detalhes do tipo. Agora que você já bateu a porta na minha cara e nem ao menos tocou a campainha para me pedir perdão, eu tenho certo prazer em segurar um cigarro entre os dedos só para me lembrar da sua voz arranhando dizendo: "Para, amor".

Preciso confessar que já te liguei diversas vezes desde aquele dia. Já te liguei em todos os horários mais inusitados, mas apenas de números que você não conhece. Não quero te dar esse prazer de me ver correndo atrás de você. Liguei de orelhões na madrugada para ouvir sua voz de sono, liguei do celular de amigos no fim da tarde pra ouvir sua voz exausta depois do trabalho. E nunca tive coragem de dizer nada. Nunca tive coragem nem de ao menos fingir que eu era atendente de uma empresa de telemarketing. Ouvia sua respiração, seu "Alô" enjoado de sempre e esperava você desligar. Diversas vezes você ficou uns cinco minutos em silêncio e repetiu o mesmo "Alô" umas trezentas vezes antes de desligar  — me pergunto se em algum momento você sabia que era eu e se você só queria me dar coragem para dizer algo. Coragem que eu nunca tive, coragem que eu nunca vou ter.

Eu sempre me pergunto se algum dia você vai se arrepender, fico horas deitada na cama olhando uma foto nossa que eu ainda não tive coragem de jogar fora e me pergunto se você vai se arrepender. Fico pensando que em algum momento você vai fingir que somos personagens principais de algum filme meia-boca e que você vai vir correndo pro meu apartamento para confessar que não sabe viver sem mim. Fico jurando pra mim mesma que o telefone vai tocar quando eu menos esperar e sempre finjo estar bem distraída, mas me traio dando uma olhadela cautelosa pro celular de cinco em cinco minutos. Eu me pergunto se você não tem remorso por ter me tratado daquela forma enquanto eu só te dava todo amor que havia em mim. Eu só queria que você tivesse um pouco de medo de me perder para quem me achasse andando por aí, que você tivesse medo de que quando eu saísse pelas ruas para beber sua ausência, alguém poderia me pegar no colo e me levar embora. E se eu resolvesse ir embora de vez, amor? Pro Alaska, pro Canadá ou pra Nova Zelândia, hein? Será que você acordaria a tempo de me impedir de ir? Diz que sim.

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