quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Depois do campo de visão.

Te ver sentado na minha sacada não era meu plano principal. Mas ali está você. Tão lindo. Encostando o queixo no parapeito e olhando para o shopping lá no fundo do horizonte. Você está todo curvado e com as pernas inquietas com o pensamento fixado em alguma parte do mundo que não me convêm saber qual. Queria te invadir, mas você está tão lindo assim que nem tenho coragem de te encostar. Fico sentada nessa mesinha de mármore bem do seu lado só te olhando e fico bebericando meu chá enquanto você não tira o olho do fim do horizonte. O fim do horizonte que você sabe que não é o fim, o fim do horizonte que esconde o aeroporto e todas aquelas casas. Um avião vem chegando devagar e pousa bem atrás do fim do horizonte. E você sorri. Eu fico impotente com o seu simples sorriso para um avião e me pergunto porquê você tinha que ser tão lindo. Seu sorriso fica fixado na sua boca até o avião sumir do seu campo de visão. Você continua na mesma posição e eu continuo escrevendo te olhando. Pouco me importa a cidade lá fora, a vista da sacada é bonita, mas ver você se admirando com o mundo é muito mais incrível. Seu cabelo curto balançando de forma ritmada e você olhando para além do horizonte.

"Já pensou que o ser humano é muito limitado?", você pergunta e eu te olho. Continuo escrevendo e você continua. "O mundo é muito mais do que nós vemos. Esses sentimentos, essas sensações, essa dor existencial que todos sentem, tudo é demasiado exagero. Somos muito limitados.", você suspira e eu te olho. Sorrio e recebo um sorriso de volta. Você sai da posição inicial e se senta na mesa, bem na minha frente. "Queria que as pessoas vissem o mundo como você.", você diz enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e eu sinto minhas bochechas arderem.

"O que eu vejo demais?", pergunto curiosa.
"Você vê além.", você diz apenas. Silêncio. "Eu tenho aprendido com você.", você completa.
"Obrigada.", é tudo que consigo dizer.

Você se vira, volta a observar o horizonte, o shopping, fica esperando algum avião pousar, fica esperando algum barulho te tirar do transe, fica esperando alguém te acordar, fica esperando que eu te puxe e te diga alguma coisa que vá te acalmar, alguma coisa que te faça esquecer da nossa limitação, do nosso minúsculo tamanho, da nossa incompreensão. Mas eu não tenho coragem porque você está tão lindo olhando o mundo ao seu redor.

E eu me sinto quase completa por saber que nós dois vemos além. Mesmo que isso ainda seja muito limitado e não seja o suficiente. A vida exige mais do que isso de nós. Mas você não exige mais do que temos conosco. Eu repito umas três vezes baixinho que você é lindo demais e tiro uma foto sua da forma que você está, puxo fundo o ar e te falo rapidamente:

"A verdade é que foi você quem me ensinou.", você me olha por alguns demorados segundos. Você sorri e volta a olhar a cidade. Eu sei que você me entende. Eu sei que havia sido o suficiente para te acalmar, para me acalmar e para poder continuar te olhando até a hora que for preciso levantar daqui para acender a luz e te levar para dentro de casa.

2 comentários:

Prosas da Nay disse...

Ual, incrível o texto.

Paula Santana disse...

Muito obrigada, de verdade!