Uma tragada no cigarro. Uma golada no café. Duas goladas no café. Duas tragadas no cigarro. O mundo girava devagar enquanto ela observava pela janela do seu apartamento. "O que estava em jogo era a minha sanidade", ela pensou suspirando, "e eu perdi, cacete, eu perdi". Realmente, ela havia perdido. A sanidade que ela tanto valorizava, havia escorrido ralo abaixo. Bastou sentar-se na mesa de uma cafeteria às 3 da tarde de uma quinta-feira e bater os olhos em um rapaz. Ele viu que ela o observava e sentou-se perto. Assuntos infinitos, gostos em comum: café, cigarro, livros e melancolia. Trocaram telefones, mas ela se arrependeu assim que o fez. Depois de tanto pensar, ela percebeu que era um teste e ela queria provar que ganharia. Nunca acreditavam quando ela dizia que possuia células de defesa contra o amor e ela queria provar que tinha. Doce ilusão... E foi assim o início do fim da sua lucidez. Enquanto ela se lembrava de detalhes da história, continuava pensando: "Eu perdi, meu Deus do céu, o que foi que aconteceu comigo?".
Depois da troca de telefones, assim que ela entrou em seu carro para voltar para o trabalho, o celular vibrou com uma mensagem que dizia: "Adorei te conhecer, menina dos olhos profundos". Até aí tudo bem. Ela ignorou a mensagem e se esqueceu em segundos daquilo. Dirigiu em paz para o trabalho e não sabia que um furacão estava chegando. Mesmo sendo ignorado, ele continuou procurando por ela até que ela cedeu. Foram ao cinema e ele pegou a mão dela delicadamente várias vezes. E os dias seguintes foram de muitos encontros e reencontros. O auto-controle diminuia quando crescia a vontade de vê-lo. Telefone: alô-vem-me-ver. Mensagem: obrigada-por-hoje. Depois de alguns meses, ela tinha certeza que havia perdido. A bandeira branca estava levantada para quem quisesse ver.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho de chave na porta da sala. Ela girou os olhos sorrindo e deixou o cigarro no cinzeiro da sacada. Levantou-se lentamente e mordeu o lábio inferior pensando ainda: "Eu perdi, o amor ganhou".
"Amor? Cheguei", a voz masculina chamou e os olhos do rapaz se encontraram com o dela. Ambos sorriram simultaneamente. Ele desabotou os primeiros botões da blusa enquanto andava na direção dela. Não hesitou e lhe apertou com força contra si, dando-lhe um beijo terno. E depois murmurou deliciado... "Hum, adoro quando você tem esse gosto de café".
"Ainda bem que eu perdi...", ela pensava enquanto o puxava para mais um beijo sorrindo e desabotoando os botões que faltavam. Aquela era sua vida agora: com ele naquele apartamento. Ela agradecia todos os dias por ter perdido a sanidade e por ter ganhado o amor. "Eu perdi, amor, mas eu te ganhei", ela sussurrou com a voz falha e trêmula. Ele sabia do que ela estava falando e lhe respondeu com um sorriso torto. Foi o bastante.
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