sábado, 27 de agosto de 2011

Fim do dia sem ele. Fim da vida com ele.


O apartamento era gigante e vazio. Poucos móveis. No canto da nova sala, a mala estava jogada e aberta. Alguns sapatos já estavam espalhados pelo chão. Nenhum perfume no ar, nenhuma brisa. Só aquele cheiro de tinta, aquele cheiro de apartamento que não recebia o ar do exterior há anos. Uma parede estava descascando. O chão fazia ruídos enquanto ela se movia, a madeira já estava pedindo uma reforma. A janela da sacada fora aberta. "Finalmente", ela pensou e um pouco de ar começou a invadir o ambiente. Ar puro, mas não tanto quanto... Ah, melhor não lembrar. Ela havia esquecido seu vestido favorito, seu sapato favorito, seu mensageiro dos ventos e mais um monte de pedaços dela... Ela havia chegado naquele apartamento novo despedaçada. E por que ela fora embora? Porque era a hora. Todo fim dói apesar de ser uma oportunidade de recomeço. Ela correu para o banheiro e tomou uma ducha. A água era gelada demais e se tentava regular, ficava quente demais. No chão não havia um tapete pintado por ela, era só um azulejo branco e triste. Na bancada da pia não tinha sua escova e nem tinha a escova dele, não tinha nada. No espelho, ela viu seu rosto inchado. Seu celular estava esquecido dentro da mala e vibrava enquanto ela permanecia se olhando no espelho. "Dói, amor, mas eu não posso voltar", ela sussurrava para si mesma como se houvesse a chance dele ouvir do outro lado da cidade. O celular continuava vibrando... Era ele querendo conversar. Ela saiu enrolada da toalha e tentou sentir paz, mas o fim ainda pesava bem no fundo da alma. Foi para a sacada do apartamento e fechou os olhos. O celular parou de vibrar. Lágrimas saiam pelos olhos enquanto ela observava o pôr-do-sol. Seria difícil recomeçar, difícil demais...

Um comentário:

Paula disse...

Que texto mais gostoso de se ler.