quarta-feira, 23 de março de 2011

Perfeita.


Ela trancou a porta do banheiro e parou em frente ao espelho ofegante. Apenas com roupas intímas e uma vergonha de se olhar diretamente. Ela virava discretamente de um lado para o outro e entortava a cabeça para se analisar direito. A vontade de chorar começou a aparecer e não foi só vontade porque em segundos, lágrimas caíam continuamente pelo seu rosto. Feia, feia, feia. Era tudo que ela pensava. Havia acabado de passar por um momento constrangedor no colégio: um grupo de garotas pegaram a auto-estima  da pobre menina - que já era baixa -  e a esfregaram no chão. Cabelo feio, corpo feio, roupas fora de moda. O que mais ela podia fazer? Correr para seu quarto, seu banheiro e se odiar na frente daquele espelho. Um suspiro era seguido por uma lágrima e assim sucessivamente. Rótulos, rótulos, rótulos. Ela olhou para sua escova de dente e quis forçar vômitos - mas ela tinha superado aquilo, não tinha? Ela olhou para um objeto pontudo e quis se cortar - mas ela tinha superado aquilo também, não é mesmo? Então, por que ela estava se sentindo aquele lixo novamente?

Depois de um longo tempo, ela ouviu alguém batendo na porta do quarto. Ela diminuiu sua respiração e permaneceu quieta, mas a pessoa continuou batendo e não dizia nada. Até que uma voz masculina chamou o nome da menina. Não era seu pai porque ele morava muito longe dali. Não era seu irmão porque ela não tinha irmãos. Quem era, então? Ela não queria atender ninguém, não queria que ninguém falasse nada, não queria que as pessoas mandassem ela parar com o drama. Será que eles sentiam o que ela estava sentindo? Será que eles já haviam sentido na pele algo do tipo? Mas antes que ela pensasse em qualquer outra coisa, um pequeno papel foi jogado debaixo da porta. Ela olhou para o papel e enxugou os olhos antes de pegá-lo no chão. Pegou e se surpreendeu com uma caligrafia um pouco esgarranchada. Abriu a porta e não viu ninguém. Sorriu levemente e enxugou novamente o rosto. Ela se olhou novamente no espelho e sorriu mais uma vez. E releu muitas e muitas vezes o papel que dizia:

"Nunca se esqueça: Você é perfeita do seu jeito."

2 comentários:

Lara Oliveira disse...

Que texto maravilhoso! Nossa, que coisa linda, Deus foi quem enviou esse bilhete, não é? E deveria enviar pra todas essas meninas que se acham horríveis. Parabéns!
Beijos

Camila Paier disse...

E não é mesmo, Paula? Desse nosso jeitinho, com o corpo que temos, que combina com o rosto e tem o complemente chave, que é a personalidade, há pessoas que nos amam, e outras que nos detestam. Faz parte da seleção natural que é viver e se relacionar, seja em amizades ou no amor mesmo. Adorei os detalhes do texto!
Beijoca