sábado, 16 de abril de 2011

A decisão indefinida.

Era sexta-feira, meu ânimo para sair era zero e meus pensamentos estavam em máxima velocidade. Falar ou não falar, falar ou não falar, fiquei me perguntando isso a tarde toda. Em meio a pessoas cansadas, suadas e com olhares irritados andando na rua pelo sol do meio dia, eu pensava nisso. E a decisão foi tomada quando eu vi de um lado da calçada um casal andando de mãos dadas e do outro uma menina chorando disfarçadamente. Ficou decidido: vou falar. Era fato que meu destino seria um desses dois lados e por isso eu tinha que tentar.

Montei um diálogo na minha cabeça e o diálogo imaginário tomava duas direções também. Pura invenção, puro delírio - nada seria desse jeito. Eu falava que gostava de você e você dizia que também gostava de mim. Eu falava que gostava de você e você dizia que não era isso que você sentia. Ou um, ou outro, não é? Na verdade, não. 

Oito da noite, nove, dez e nada de você aparecer. Dez e cinquenta e alguns quebrados, você apareceu. Meu coração apertou e eu quis correr para debaixo das minhas cobertas e ficar lá até o dia clarear e o monstro da sua presença ir embora. Mas eu não podia. Eu tinha que ser forte e sussurrava pra mim mesma: dois anos já, pare com tanta bobagem e enfrente os seus problemas. Enchi meu peito com ar e segurei firme a mão da minha mais recente amiga: a coragem.

Tentei seguir o script, mas eu estava nervosa, não conseguia digitar as palavras e ficava imaginando seu olhar surpreso. "Eu gosto bastante, bastante mesmo de você". Eu disse no final do meu discurso - era um discurso sem promessas, sem cobranças e sem uma exposição intensa de sentimentos porque eu não queria te assustar. Você não entendeu bem e achou que eu estava me referindo à nossa amizade... Coitado, até nessa hora você me fez rir. E eu repeti e acrescentei que não era só-como-amigo. E você se surpreendeu. Começou então a bagunça das palavras, as contradições: "eu gosto muito de você; eu achei que não tinha nada; não sei o que dizer; você me pegou de surpresa; por você ter falado você ficou ainda mais importante pra mim." e etc. E veio também a raiva imensa que você me fez sentir, você ousou perguntar se eu estava carente e eu quis atravessar a tela desse computador só para te encher de tapas. Eu não teria falado isso para você se não fosse verdadeiro, seu idiota, eu poderia falar para qualquer menino que mora aqui perto de mim, se liga, alô! Eu disse essas palavras de maneira mais educada e você me soltou um: "eu sei que o nosso gostar é verdadeiro". Ah! O nosso gostar? E do nada você me mandou coraçõezinhos e você falou isso e aquilo e eu chorando oceanos do lado de cá. 

Eu chorei porque o roteiro foi rasgado e enquanto os pedacinhos de papéis voavam pra sei-lá-onde, você mudou o rumo da história para rumo nenhum. Eu  queria que você se posicionasse do lado bom - de preferência - ou do lado ruim da situação.  Mas foi impossível te entender. A minha parte eu fiz, eu abri meu coração pra você e... Chega! Já foi um custo tremendo fazer essa parte, agora se em algum momento você quiser conversar abertamente sobre isso, nós conversamos. 

Eu não estou do lado da menina que estava chorando e nem estou com você do outro lado junto com aquele casal. Eu estou sozinha no meio da rua. Com o coração na mão, as lágrimas caindo e uma esperança de que você me empurre pra um dos lados da calçada antes que o semáforo se abra.

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