quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Asfixia.

— Você acha que é simples?
— Acho. — Caio respondeu enquanto dava uma última golada no seu copo de whisky olhando pela janela.
— Não é nada simples! Porra, Caio, olha pra mim!
— O que foi? — Ele gritou me encarando com os olhos vermelhos e fiquei estática observando uma lágrima ou duas escorrerem por suas bochechas. — O que você quer, afinal, Daniela?
— Nós dois. — Sussurrei como uma criança envergonhada.
— É? Você quer nós dois? — Ele se aproximou e começou a roçar sua língua no meu pescoço, revirei os olhos enquanto ele me puxava pela nuca. — Deixa eu te dizer uma coisa... — Ele puxava meu corpo contra o dele com tamanha força que eu não conseguia mais raciocinar. — Nós já temos nós dois, mas você insiste em complicar isso. — Ele terminou de falar e se afastou brutalmente, andando para o outro lado da cozinha.
— Pra você é muito simples! Pra você é ridículo de tão simples... Não basta viver de festinhas! Não basta! Eu quero uma vida com você, mas você quer continuar sendo o moleque mimado de sempre. Você usou as táticas certíssimas para me prender e agora que conseguiu o que queria, esquece que eu existo. E continua aí, com essa cara de sonso, achando que tudo é simples! Nada é simples, Caio! — Eu berrei enquanto saia da cozinha, mas ele me puxou pelo braço antes que eu chegasse até a sala.
— Me fala, então... Me fala o que você quer de mim. Fala qualquer coisa que eu faço. Não aguento mais essas brigas. — Os olhos dele estavam fundos e me encaravam implorando por piedade.
— Eu não posso exigir nada de você. — Suspirei.
— Pode e deve. Eu sou completamente seu. Mas você não acredita. Então, eu te dou esse direito de exigir o que quiser. Exige e pede que eu cedo. Juro que cedo. Juro! — Ele afrouxou os dedos ao redor do meu braço e seus lábios começaram a tremer.
— Você está bêbado, amanhã não vai lembrar de nada.
— Eu estou consciente, eu sei dos meus erros e você tem razão: nada é simples. Mas eu quero descomplicar pra você. Eu quero fazer você voltar a sentir o que sentiu no começo. Eu quero te mostrar que eu não mudei. — Ele se aproximou bastante e novamente me puxou pela nuca, mas não fez nada além de afundar o rosto no meu ombro e logo depois se desabou em lágrimas.
— Para de chorar. — Senti um aperto no peito enquanto meus ombros ficavam molhados.
— Para de fazer assim comigo. — Ele murmurou cheirando meu cabelo.
— Desculpa pelos insultos. — Comecei a organizar meus pensamentos enquanto envolvia meus braços ao redor do seu tronco sem camisa. — Eu não quero ter que exigir nada de você, eu não quero que você pense que eu não sinto mais o que eu sentia no começo, eu não quero que você ache que existe a possibilidade de que eu desista de nós dois, eu só quero que você se lembre de como tudo era no início e compare com nossa situação agora. Eu estou exausta e você também. Onde é que nós paramos, Caio? — Ele levantou o rosto para me olhar e deu um meio-sorriso.
— Nós não paramos. Nós só corremos demais. — Ele enxugou o rosto e respirou fundo. — Nós tivemos pressa, quisemos adiantar o futuro pra ontem. Quisemos virar adultos quando éramos duas crianças se apaixonando. — Ele cruzou os braços e se encostou na parede do corredor enquanto me olhava, eu me encostei na parede oposta e fiquei de frente para ele. — Eu não me arrependo disso, mas deveríamos ter ido com calma. O problema é que não existe calma entre nós dois, nunca existiu.
— Eu tive mais pressa que você.
— Eu me joguei fundo logo de cara e você teve pressa de me salvar, mas acabou mergulhando comigo. Deveríamos ter subido até a superfície, talvez. — Ele esticou o braço o suficiente para acariciar meu rosto e eu fechei os olhos com aquele toque.
— Agora já estamos aqui, bem no fundo. No mais fundo que poderíamos chegar. E é disso que eu estou falando quando digo que não é simples. E se a gente se afogar? Tudo está desandando esses tempos.
— Nós não vamos nos afogar, Dani. Não vamos. Eu posso te dar esse trabalho todo e você também, mas nós temos um ao outro. Me perdoa por errar assim. — Ele me puxou pelos braços e me abraçou de novo.
— Me perdoa por errar assim também.
— Você já percebeu que nós sempre acabamos as brigas dizendo coisas meio poéticas? Eu não era assim até você aparecer. — Ele soltou uma risada gostosa de se ouvir, mas seu semblante ficou sério logo em seguida. — Não queria te sufocar com meu amor.
— Você não me sufoca. — Senti as lágrimas borbulharem. — Pelo contrário.
— Pelo contrário?
— Você é o ar.
— Isso foi poético demais pra mim...
Ele riu enquanto se aproximava de mim para me tirar o fôlego novamente. Nesses momentos eu tinha uma súbita certeza que ele era mesmo o ar. O ar e todos os outros elementos. O ar, a terra, o fogo e a água. Meu mundo entraria em desequilibrio sem a sua presença. Eu entraria em colapso sem a sua presença.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei porque mas todas as vezes que leio meus olhos se enchem de lagrimas , mas elas não caem .
Simplesmente perfeito de se ler .

Anônimo disse...

Escreva mais textos como esses ^-^