sexta-feira, 8 de abril de 2011

Querida Bobbie,

(Pequena história baseada na música Dear Bobbie - Yellowcard)

Querida Bobbie,

Eu acho que deveria começar essa história com um “Era uma vez há muito tempo atrás...”, mas talvez nem isso fosse suficiente para contar para os outros e relembrar essa história com você, Bobbie. Eu estou aqui nos meus 74 anos e estou parecendo um garoto de 18, talvez eu tenha parado no tempo desde o dia em que eu te conheci e te chamei sem jeito para dançar.

Eu me lembro bem que havia acabado de entrar no salão e tinha te visto sentada com uma saia enfeitada, um sapato preto e branco, um pequeno laço em seus cabelos. Eu te achei a mulher mais linda daquele lugar. Quer dizer, aqui entre nós: eu só consegui olhar para você naquele lugar. Depois de algumas horas com meus amigos, eu resolvi ajeitar meu paletó e fui até você. Passei as mãos pelos meus cabelos louros com gel e estiquei uma mão em sua direção.

- Quer dançar? – Eu perguntei completamente intimidado pelo seu sorriso que não saíra de seus lábios em momento algum. Você fez que sim com a cabeça e eu me lembro bem que nossa sincronia foi perfeita naquela música lenta e naquela outra rápida e em todas as outras que dançamos juntos. Enquanto minha mão se fixava contra a sua cintura, parecia que você flutuava e meu pai havia me ensinado desde menino que era assim que a gente sabia se estávamos dançando bem ou não. 

Eu era um menino de 18 anos e você era uma garota de 17, nós dançamos perfeitamente naquela noite e eu sinto uma leve tristeza de não sermos os melhores dançarinos da pista dos dias de hoje - aqueles jovens tomaram nosso lugar. Como o tempo passa, não?

O ano era 1945, depois daquele dia eu quis te ter sempre por perto. Eu nunca havia sentido aquela sensação estranha e até hoje eu digo que nasci no dia em que eu te conheci. Eu abri meus olhos para o mundo e meu mundo passou a ser seu também. 

Nosso namoro começou e um dia em especial me marcou bastante, parece que foi ontem que nós estávamos na varanda da sua enorme casa depois do jantar e após um beijo, eu sussurrei para você:

- Se você estiver comigo quando cada dia começar, eu só me apaixonarei mais e mais por você. - Foi uma promessa, Bobbie, eu tinha certeza que você seria a mulher da minha vida, que eu subiria ao altar com você e que eu estaria contigo – e ainda te amando - até o último dia da minha vida.

Entre idas e vindas o nosso namoro durou quatro anos. Em um dia você simplesmente pegou seu carro, viajou para a casa de uma tia sua e ficou um mês sem me dar sinal de vida. Eu também não queria saber de você, tudo por uma das centenas brigas. Não conseguiria contar nos dedos o tanto que brigamos, mas a melhor parte disso tudo era que quando fazíamos as pazes, só tínhamos mais certeza que precisávamos um do outro. Mas como eu estava dizendo, entre idas e vindas o nosso namoro durou quatro anos, porque em 1949 nós nos casamos. 

Eu tinha comprado um conversível amarelo e te levei para dar uma volta, quando chegamos naquela pequena montanha eu te fiz o pedido. Você sorriu com lágrimas escorrendo pelo seu rosto de porcelana e sussurrou:

- Achei que você nunca pediria. – Eu coloquei o anel em seu dedo e você me deu o melhor de todos os beijos. Eu tinha 22 anos, era jovem e você também. Mas quem poderia decifrar a melhor idade para o amor nascer? Ninguém. 

Naquela noite nós ficamos dando volta por todos os lugares da pequena cidade em que morávamos até a noite virar. Seu pai quis me matar, mas quando você mostrou o anel de noivado ele me deu um abraço e disse que eu era bem-vindo naquela família. Fui embora cantando naquele dia, sabia, Bobbie?


Nós mandamos construir uma casa para nós, exatamente como nós queríamos: branca com janelas de vidro. É engraçado que hoje essa casa já tenha quase 52 anos, ou seja, quase 20 mil dias de existência – não estou sendo exato nas contas, eu nunca fui bom com isso, você sabe. Tantas memórias que eu guardei de momentos nessa casa: desde o dia em que você descobriu que estava grávida do nosso primeiro filho, Jamie – depois dele vieram mais quatro; até o dia que você chorou de alegria porque eu tinha conseguido um emprego ótimo. 

O tempo passou e nós mudamos junto com ele. Seus cabelos são completamente grisalhos assim como os meus, o tempo foi nosso melhor companheiro para provar ao mundo que somos mais fortes que todo o resto. Eu sei que nós estamos diferentes, não somos jovens e andamos devagar, mas eu te amo do mesmo jeito e você continua sendo a mulher mais linda do mundo. Já temos netos que correm pela casa e eu sinto que o fim de tudo isso se aproxima, mas eu não me importo... Com você, eu aprendi o significado da palavra amor. O que fizemos aqui na Terra ficará registrado aos olhos de Deus e aos olhos de quem nos conheceu, mas também passará de geração para geração. Nada foi em vão. E não tenho medo de dizer que o que me mantém feliz, enquanto eu me balanço nessa cadeira ao seu lado, observando o pôr-do-sol e apertando de leve suas mãos enrugadas, é a certeza que quando eu for embora, quando eu fechar meus olhos definitivamente, eu ainda estarei te amando. Da mesma maneira que eu te amei desde o primeiro dia que eu te vi com aquele laço na cabeça e eu tenho certeza que nas próximas vidas, este amor prevalecerá.

Com amor,
Do seu eterno, Ben.  

3 comentários:

Camila Paier disse...

Que LINDO, flor. Fico me perguntando, às vezes, será que há espaço pra um amor que dure assim, quase a vida inteira? Se sim, eu quero! Hahahaha
E teu texto, com todas essas lembranças sutis e sensíveis me lembrou o filme O Diário de Uma Paixão, em alguns momentos. Amor que dura: volta pro mundo!
Um beijo

2edoissao5 disse...

a gente tende a ver a pessoa assim, sem o tempo ter passado...

Lara Oliveira disse...

Que maravilha esse texto! Menina, que coisa linda. Concordo com a Camila, se ainda existir um amor desses, eu quero, rs. Parabéns mesmo, ah, e essa música ficou muito fofinha. Amei :)
Beijos